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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Resenha: Veronika decide morrer



O melhor de Paulo Coelho, sem dúvida

Quando o assunto é literatura de qualidade, o brasileiro Paulo Coelho é sempre objeto de controvérsias envolvendo inúmeros leitores, que acabam se dividindo em dois lados distintos: de um deles, os que se classificam como sérios e fãs da literatura de excelência; do outro, aqueles que são fãs declarados do autor, que o defendem com unhas e dentes.

Não me encaixo em nenhumas das categorias citadas. Antes de ler “Veronika”, meus únicos contatos com as obras de Paulo foram dois de seus livros, “O Diário de Um Mago”, que abandonei sem o menor remorso e “Maktub”, que li até o final e que achei razoável e pouco inovador, por se tratar apenas de uma pequena coletânea de histórias tradicionais de outras culturas com as quais ele deve ter travado contato, todas elas com um fundo moral, filosófico ou religioso, e que recontou com suas palavras.

Mas voltando à controvérsia, é super comum eu ler por aí, principalmente em comunidades de literatura de redes de relacionamento social da internet, algumas acusações como “Paulo é medíocre” ou “Paulo não sabe escrever” e argumentações como “Paulo é um perseguido pelos elitistas por pensar diferente” ou “Paulo é invejado”.

Afinal de contas, Paulo possui ou não possui méritos?

Não me aprofundarei na questão porque não sou conhecedor da totalidade de suas obras e uma das piores coisas que um crítico ou resenhista pode fazer é classificar um livro como ruim sem tê-lo lido. E se me fosse feita essa pergunta, a minha resposta seria “sim, ele tem méritos”. Além de saber promover bem seus livros, o livro que resolvi resenhar hoje, “Veronika decide morrer”, excede expectativas.

Nas mesmíssimas comunidades que citei, esse livro era quase que uma unanimidade entre os fãs, os neutros como eu e alguns dos críticos e isso aguçou a minha curiosidade. Decidi adquiri-lo e tirar então as minhas próprias conclusões.

As questões que norteiam o livro são basicamente três: a morte, a loucura e a fé (em si). Trata-se da história de uma jovem bibliotecária eslovena chamada Veronika, aparentemente sã, controlada e que demonstra saber viver em um mundo normal, previsível e controlado por normas sociais. Porém, sentindo-se incapaz de lidar com estas convenções, tem uma espécie de crise existencial e decide morrer por meio de suicídio, ingerindo então substâncias prejudiciais ao seu organismo.

O suicídio é malsucedido. Preocupados com possíveis reações adversas que possam vir de Veronika, seus pais a internam em um hospício para receber tratamento. E nesse ponto da resenha, faço um parênteses para explicar algo muito importante: Veronika na verdade é um alter ego feminino de Paulo. Quem conhece a sua história de vida pessoal, sabe que ele passou inúmeras vezes por instituições psiquiátricas quando era mais jovem e pouco ajustado às exigências de próprios seus pais. E, nestes lugares, recebeu tratamentos nem um pouco éticos e recomendados às pessoas, que neste livro, são retratados em riquezas de detalhes.

Voltando à história, o suicídio não surte o efeito desejado e imediato em Veronika, mas tem uma conseqüência grave: o coração dela sofre um dano irreparável e agora sua morte é certa e eminente, podendo ocorrer em até uma semana. E é nesse ínterim que Veronika resolve reavaliar mais a fundo sua vida e suas escolhas, ainda mais travando contato estreito com outros pacientes da instituição e tomando conhecimento de suas vidas, algumas muito mais  sofridas que a dela.

Religião, psicanálise e senso comum são temas altamente discutidos enquanto Veronika permanece encerrada nesta instituição e agora, temendo a própria morte. O que é a loucura? O que é a realidade? E por que, apesar da lei natural dizer que temos que lutar pela vida, existem aqueles que insistem em morrer? 

Abandonando desta vez as suas vertentes místicas, Paulo escreveu um livro delicado que nos faz pensar. Não apenas na vida da protagonista e de seus coadjuvantes, mas um pouco em nós mesmos. O simples fato de nos colocarmos no lugar destas pessoas já nos provoca a dúvida: estamos ou não aproveitando a vida como gostaríamos?  Somos felizes, afinal?

Portanto, vença os preconceitos que você possa vir a ter em relação às obras de Paulo e procure conhecer a história deste livro em particular. Acredito que ele possua algo que lhe será proveitoso e que só poderá ser compreendido em sua totalidade se você resolver lê-lo mesmo, pra valer. 

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