Fantasias para todos os gostos, com direito a muitas perversões
Antes de começar esta resenha, uma pergunta ao leitor interessado: Tem certeza que você deseja mesmo ler Anaïs Nin? Se sua resposta for positiva, prepare-se antecipadamente para um turbilhão de emoções e sensações que podem oscilar entre o agradável e o desagradável. E siga o meu conselho: tenha a mente aberta.
A primeira vez que ouvi falar da liberal Nin foi em 1990, quando eu tinha apenas 16 anos de idade. Foi o ano do lançamento do filme “Henry e June – Delírios Eróticos”, do cineasta Philip Kaufman. O filme conta a história do escritor americano Henry Miller (Fred Ward) e de sua esposa June (Uma Thurman), que resolvem viver na efervescente e exótica Paris dos anos 30 e conhecem Anaïs (Maria de Medeiros).
Resenhas da época em jornais e revistas ecoavam que o filme era de grande voltagem erótica, por conta da vida de seus protagonistas, que quando (bem) vivos deram vazão a um triângulo amoroso bastante comentado e conturbado, tendo Anaïs como o vértice. Embora tenha me interessado bastante pelo filme na época e por conhecer as obras e vidas dos envolvidos, nenhum deles chegou a ser disponibilizado aqui em minha cidade, para minha total frustração. E é por isso que volta e meia digo ironicamente que é muito difícil viver longe das grandes centros e no meio da selva, por perder oportunidades como essa.
Só agora, depois de adulto (e ainda sem ter assistido ao filme) é que o destino resolveu por em minhas mãos a mais controvertida das obras de Anaïs, o incensado Delta de Vênus (Histórias Eróticas).
Embora não tenha mais o vigor da juventude, este livro chamou muito a minha atenção. Logo no início, numa espécie de prefácio, a autora, muito franca, deixa escapar que escreveu esse tipo de literatura com apenas uma intenção: ganhar dinheiro.
Os anos em que viveu em Paris, que sofreu muito os efeitos das guerras no continente europeu não foram exatamente perfeitos, imersos em um mar de rosas. Para poder viver, tanto ela, Miller e outros escritores tiveram que se submeter aos caprichos e aos generosos pagamentos de um mecenas muito rico que patrocinava esse tipo de literatura para seu voraz consumo pessoal: uma espécie de colecionador de histórias picantes.
E Delta de Vênus é um dos muitos resultados da criação destes contos. Longe de serem românticos, por exigência do seu patrocinador (embora a autora tenha se esforçado por deixá-los mais sentimentais), os contos do livro são puro erotismo carnal, em suas mais diversas nuances, sejam dentro do tradicional papai-e-mamãe, passando por relações bi e homoafetivas e chegando às conhecidas e muitas vezes incompreendidas parafilias (perversões sexuais) descritas nas obras de Sigmund Freud, de quem Anaïs era muito fã e seguidora. Portanto, não estranhe e nem se acanhe com os relatos de voyeurismo, sadomasoquismo, exibicionismo, pedofilia, zoofilia, necrofilia, coprofilia, urofilia, bondage, frottage e incesto que você encontrará nesta obra tão peculiar.
Os melhores contos desta edição, na minha opinião, são “Artistas e Modelos” e os seis que finalizam o livro. Por si sós já valem a leitura do livro, que também possui seus momentos de fraqueza, caracterizados em alguns contos mornos, sem-graça ou repetitivos.
Portanto, se você gosta de sexo sem pudores e de literatura de qualidade que foge do convencional, originados na mente de uma mulher excepcional à frente de seu tempo, arrisque-se neste Delta de Vênus. Sua satisfação será garantida.
também li e não vi o filme.
ResponderExcluirNem acredito que finalmente consegui entrar e deixar registrada minha passagem por aqui!!
ResponderExcluirSucesso Marcelo.....