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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Resenha: Fome de Loba


Lobisomens à solta

A literatura fantástica, voltada ao sobrenatural, é uma realidade em nossos dias. Nas livrarias de todo país e de todo o mundo surgem cada vez mais novos autores e novas publicações dispostos a tornar o tema inesgotável entre o público leitor, especialmente os mais jovens, por serem ávidos pelo estilo, menos exigentes com o que lêem e pouco propensos a preconceitos literários.

Após lidar ultimamente com uma horda inteira de vampiros (os mais comuns seres sobrenaturais da literatura atual), resolvi encarar desta vez os lobisomens, neste “Fome de Loba”, o primeiro livro da canadense Kelley Armstrong.

Sua estréia, entretanto, não poderia ter sido a mais sem graça possível no mundo da literatura. Embora com ingredientes e argumentos que poderiam ter resultado em um livro brilhante, este deixou bastante a desejar, especialmente pela sua previsibilidade e situações manjadas.

A história da obra gira em torno da bela e atormentada Elena Michaels, único exemplar feminino de lobisomem no mundo. Quando criança, sofreu um acidente de carro que a deixou órfã e, criada por uma família que mais tarde a abandonaria, ela viu sua vida se modificar por completo após ser mordida por um namorado, o imprevisível Clay.

Após o fato, sobreviveu inexplicavelmente à mordida, ao contrário de muitas de suas antecessoras, que jamais resistiram à metamorfose lupina e por isso, acabou sendo adotada pelo grupo de homens-lobo do qual o próprio Clay fazia parte, um grupo fechado e cheio de regras cujos principais preceitos consistem na preservação da espécie, no controle monitorado dos "desgarrados" (os que não pertencem ao Bando), na proteção dos demais lobisomens e do território e no principal deles, a determinação de não matar por prazer e não interferindo na vida humana.

Kelley Armstrong, portanto, conferiu aos lobisomens, seres fantásticos que alimentaram lendas e histórias na cultura de vários povos uma história, moral e sentimentos, a exemplo do que a escritora Anne Rice faz com os vampiros. A autora, porém, foge de estereótipos e cria uma trama de suspense que explica os códigos de conduta, regras e conflitos de identidade dessas criaturas, a partir da experiência pessoal da protagonista.

Os lobisomens com os quais Elena interage possuem força física e habilidades impressionantes: são capazes de matar um homem com apenas um golpe e podem perceber a presença de um intruso pelo olfato mesmo a quilômetros de distância. Elena, que no Bando tinha a função de controlar os "desgarrados", a fim de impedi-los de ameaçar a segurança dos demais, é convocada por Jeremy, o alfa do grupo, um ano depois de tentar viver entre os humanos. Ele precisa da ajuda dela para entender os mais recentes acontecimentos misteriosos em Stonehaven, a propriedade isolada nos arredores de Nova York e sede do Bando, que podem colocá-los numa situação de perigo. O apelo fará com que a protagonista enfrente não apenas o atentado às normas, mas também sua própria decisão de identidade, pois Elena, mulher inteligente e segura de si, decidiu há alguns anos atrás viver como humana, o que implicou na tentativa de sufocar seus instintos animais. Vive em Toronto, no Canadá, trabalha como jornalista e namora o arquiteto Philip, com quem divide o apartamento e do qual tenta esconder seu segredo, mesmo que isto implique em um estranho hábito de sumir uma vez por semana, na madrugada, para "correr", o que no código lobisomem significa completar uma metamorfose e matar algum animal.

Como o leitor do blog pode perceber, o livro possui um enredo de grande potencial à primeira vista, mas, no entanto, o mesmo não me agradou conforme eu ia avançando em suas páginas, talvez pelo fato da heroína, aparentemente segura de si, demonstrar ser, no fundo, uma mulher submissa, emocionalmente instável e insegura, mudando toda hora as suas vontades e suas opiniões, em especial a respeito de sua relação afetiva com Clay, que achei um grandíssimo chato de galochas que fica fazendo o tempo todo a linha rebelde sem causa.

A trama, portanto, é morna e sem maiores surpresas, lembrando muito os filmes policiais que vemos exaustivamente na TV porque basicamente este “Fome de Loba” enfoca um confronto entre duas gangues rivais, uma de “lobisomens bonzinhos” e outra de lobisomens malvados.

E é isto. Apesar de elementos criativos bem promissores, a história no fundo é fraca e banal, do tipo esquecível após a leitura. Portanto, se você quiser correr o risco de lê-la, fica então um último conselho: empreste-a de alguém, pois um possível investimento financeiro em um livro como este não vale tanto a pena assim. Relato isto de experiência.

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