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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FÉRIAS!


Assim como o fofíssimo cãozinho aí acima, cheguei ao meu limite. Volto em abril, com muitas novidades, resenhas de livros que lerei neste intervalo de tempo, promoções e muitas coisas boas. Aguardem!

Quanto a você, continue prestigiando o blog, nem que seja só um pouquinho, durante as semanas que se seguirão, para rever tudo o que foi postado em 2010. E que até lá e além, seu Ano Novo seja maravilhoso!

Obrigado por tudo, mais uma vez!

Marcelo Abreu

Poesia (XI)



Receita de ano novo 
  
Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 
Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumidas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 
Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

[Carlos Drummond de Andrade]

Poesia perfeita escolhida pela amiga Rosa Santana, de Goiânia, GO,
para finalizar as atividades do blog este ano. Feliz 2011, Rosinha!
E um Feliz Ano Novo a todos! Obrigado por tudo!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Frases (XIII)


“Nós abriremos o livro. Suas páginas estão em branco. Nós vamos pôr palavras nele. O livro chama-se Oportunidade e seu primeiro capítulo é o Dia de ano novo.” 

[Edith Lovejoy Pierce]

Trecho selecionado (XI)


"Ser diferente do que somos, de tudo o que somos, é o desejo mais nefasto que pode queimar num coração humano. Pois a única maneira de suportar a vida é se conformar em ser o que somos aos nossos olhos e aos do mundo. Devemos nos contentar em sermos feitos de uma certa maneira e em sabermos que, uma vez aceita essa realidade, a vida não nos louvará por nossa sabedoria, ninguém nos conferirá uma medalha de honra ao mérito só porque nos conformamos em ser vaidosos e egoístas, ou calvos e barrigudos - não, em troca dessa tomada de consciência não obteremos prêmios nem louvores. Devemos nos suportar tais como somos, este é o único segredo. Suportar nosso caráter, nossa natureza profunda, com todos os seus defeitos, seu egoísmo e sua cupidez, que não serão corrigidos nem com a experiência e nem com a boa vontade. Devemos aceitar que nossos sentimentos não são correspondidos, que as pessoas que amamos não retribuem o nosso amor, ou pelo menos não como gostaríamos. Devemos suportar a traição e a infidelidade, e sobretudo a coisa que nos parece mais intolerável: a superioridade intelectual ou moral do outro."

[Trecho de As Brasas, de Sándor Márai]


Escolhido especialmente para o blog pelo amigo 
Fagner Leite, de Itaperuna, RJ. Obrigado, queridíssimo!]

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Resenha: O caso de Charles Dexter Ward


Cabalístico

Eis um livro recomendadíssimo para os fãs da literatura de horror. Se você ainda não conhece as obras de  H. P. Lovecraft, já é hora de fazê-lo, iniciando então com este O Caso de Charles Dexter Ward.

Trata-se de um livro não muito longo, tanto que a única edição brasileira em circulação no momento saiu pela L&PM Pocket, ótima editora especializada em livros de bolso. Mas, embora pequeno, a obra é dotada de um conteúdo poderoso que vai mexer bastante com os seus nervos.

A história do livro gira em torno da existência de um misterioso homem chamado Joseph Curwen, que viveu em Providence no século XVIII e que era possuidor de hábitos bastante estranhos e cabalísticos. Suspeitava-se, entre as pessoas da povoação, que Curwen realizava rituais satânicos ou coisas do tipo em sua fazenda, como vampirismo e canibalismo. Por conta destes boatos e do crescente número de fenômenos sobrenaturais em torno de sua morada, acabou sendo morto por populares em circunstâncias que durante séculos foram guardadas a sete chaves e esquecidas.

Porém, cerca de duzentos anos depois, um de seus descendentes diretos, o Charles Dexter Ward do título, promissor e apaixonado estudante de história de Providence, descobre por um acaso seu parentesco com o temido Curwen.  A vida do antepassado o intriga de tal forma que ele passa a investigar, por conta própria, os acontecimentos que cercaram o indivíduo e a comunidade há séculos atrás. Porém, depois de certo tempo, a vida de Charles, que outrora era promissora e feliz, muda radicalmente de rumo quando ele começa a adotar os mesmos estranhos hábitos de seu ‘ilustre’ familiar.

Para um primeiro contato com as obras de Lovecraft, este livro pode ser um pouco cansativo, pela quase inexistência de diálogos, já que se trata de um relato minucioso da vida de dois homens que se entrelaçam de tal forma que fica difícil, às vezes, distinguir quem é quem. Um livro perfeito, que prende o leitor, especialmente aquele que possui nervos de aço e que não se incomoda com mistérios e atmosferas sombrias.

Howard Phillips Lovecraft, o autor, é nascido em Providence, Rhode Island (1890-1937), interessava-se pela ciência e suas conquistas modernas e pelo ocultismo. Tão cultuado como Edgar Allan Poe, é autor de admiráveis histórias de terror e sobrenatural que influenciaram decisivamente o desenvolvimento da science fiction. Além deste O caso de Charles Dexter War, publicou, entre outros, The Tomb, The Lurking Fear, The Cream-Quest of Unknown Kadath e The Doom that Came to Sarnath. E alguns destes títulos estão disponíveis no Brasil, no idioma pátrio. Caso tenha curiosidade por eles, procure-os nas melhores livrarias ou sebos.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Resenha: O diabo veste Prada


That's all, Andrea

Adaptações cinematográficas hollywoodianas para determinados best-sellers de sucesso nem sempre são 100% fidedignas e, sinceramente, nem precisam ser. A linguagem cinematográfica, mais ágil e dinâmica que a literária, requer mudanças necessárias às tramas, sejam elas as mais sutis ou as mais drásticas. Mas que ajudem a  contribuir para um melhor desenrolar da história.

Em relação a O diabo veste Prada, isso aconteceu e confesso que achei ótimo. Tive o prazer de conhecer o livro antes de ver o filme e, terminada a sessão de cinema, pensei: quanta diferença! E confesso que ainda não cheguei, até hoje, a um consenso sobre qual é o melhor, se o livro ou o filme, mas a película está quase lá, ganhando o páreo. Teve o mérito de trazer uma maravilhosa Meryl Streep na pele da megera (bem mais humanizada) Miranda Priestly, quase que totalmente oposta à da obra original e de dar novos desdobramentos à história que a tornaram mais dinâmica sem perder o foco.

O livro foi escrito por Lauren Weisberger. Em seu currículo profissional, está o trabalho como assistente da poderosa editora da revista Vogue, Anna Wintour, que segundo as más línguas, inspirou Miranda. Assim, qualquer semelhança da obra com a realidade não é mera coincidência. Mas, voltando à obra, nela conhecemos Andrea Sachs, uma jovem recém-formada que conquista um emprego bastante cobiçado que representa o sonho de milhares de garotas que amam o mundo da moda: o de assistente de Miranda Priestly, reverenciada editora da Runway Magazine, a mais bem-sucedida revista de moda do mundo. Porém, logo ela percebe que a empreitada não será nem um pouco fácil, por conta do gênio irascível e das muitas manhas da glamorosa, mas tenebrosa Sra. Priestly, que jamais aceita um não como resposta e quer tudo a seu jeito, sem medir as conseqüências de seus atos, muitas vezes, arbitrários. Daí em diante, o inevitável começa a acontecer. Embora comece a figurar como uma profissional em franca ascendência no trabalho, pois trabalha feito uma louca para satisfazer sua chefa, a vida pessoal de Andrea começa a decair drasticamente, obrigando-a por de lado então o seu namorado (que no livro é professor de crianças problemáticas de uma escola pública), a sua melhor amiga Lily (com sérios problemas de alcoolismo e promiscuidade sexual) e sua própria família, perdendo até, nesse momento de sua vida, o nascimento de seu pequeno sobrinho.

O livro é um pouco cansativo, com detalhadas descrições sobre marcas, produtos, procedimentos e situações que remetem ao mundo da moda, chegando a ser um pouco rasteiro e tedioso em algumas passagens. Mas vale a pena ser conhecido na íntegra. Embora soe como futilidade aos ouvidos de algumas pessoas, o mundo da moda oferece um leque de possibilidades e curiosidades que com certeza encantarão até as pessoas mais leigas no assunto.

O diabo veste Prada, portanto, é uma leitura agradável, especialmente quando encarado como uma obra catártica, a respeito de crescimento profissional e de chefes implacáveis, pessoas muitas vezes sem um pingo de sensibilidade que adoram escravizar as almas alheias sem o menor escrúpulo.  E sobre o quanto são felizes aqueles que superam estes chefes e têm um final relativamente feliz. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Resenha: Almanaque do Cinema (Omelete)


Item básico para cinéfilos


Desde que me recordo como usuário da internet, o site Omelete sempre me foi um grande referencial em termos de entretenimento e informação no mundo virtual, especialmente quando o assunto era cinema, quadrinhos, livros ou séries de TV.

Acompanhei com entusiasmo e fidelidade o florescer do site e até por conta disso abandonei de vez outras mídias, especialmente as impressas para ficar interado com as novidades do entretenimento.

Com sua evolução, seria natural o desdobramento de novos produtos relacionados ao site. E em 2009, eis que surge então o Almanaque do Cinema Omelete, lançado pela Ediouro e seguindo de perto outras publicações similares também lançadas pela editora, como os Almanaques dos Anos 70, 80 e 90, o Almanaque da Televisão, o Almanaque dos Seriados e muitos outros mais. Uma magnífica surpresa aos cinéfilos de plantão.

Apenas este ano tive a oportunidade de adquirir a publicação e no geral, achei muita boa, mas longe de ser excelente, pois senti algumas lacunas em seu conteúdo.

Com linguagem acessível a todos os públicos (do leigo ao mais cinéfilo), o almanaque inicia com um resumo muito bom da história do cinema, de seus primórdios até os dias atuais, seguido logo por uma listagem de cinqüenta filmes que seus autores, Érico Borgo, Marcelo Forlani e Marcelo Hessel, classificam como os mais relevantes de todos os tempos e que devem ser assistidos por todas as pessoas. A lista realmente é básica e bastante relevante àqueles que desejam se inteirar mais com a sétima arte e suas produções.

Seguem-se então capítulos com os perfis de diretores e atores consagrados do cinema e aqui notei algumas ausências significativas como Pier Paolo Pasolini, Tim Burton e Robert Zemeckis. Em seguida, há um longo capítulo onde são apresentada as profissionais do sexo feminino que aparecem nas telas, divididas então em três categorias distintas que achei até bastante justa, considerando suas performances e talentos pessoais. As mesmas, divididas em  atrizes propriamente ditas, musas e femme fatales, têm suas vidas brevemente retratadas,  enfatizando sempre, claro os filmes que participaram, as muittas curiosidades a respeito de suas vidas pessoais, alguns escândalos sexuais de praxe e demais informações relacionadas a bastidores. E o mesmo vale aos homens, caracterizados nos capítulos anteriores.

O almanaque ainda aborda temas como parcerias famosas entre atores e diretores (como Harrison Ford e Steven Spielberg), entre grupos de atores (como Os Irmãos Marx, Os Três Patetas), informações detalhadas sobre filmes de animação, trilhas sonoras, animais famosos do cinema, heróis, vilões, monstros, conquistadores, valentões e machonas da maior parte dos filmes que chegaram aos cinemas com êxito.

Fechando o almanaque temos algumas curiosidades, mistérios, histórias sobre festivais, premiações e rankings relacionados aos filmes, principalmente na época de seus lançamentos.

Como disse anteriormente, difícil é não perceber algumas lacunas aqui e ali, mas no geral, a obra excede expectativas. Sugiro sua aquisição e leitura por um público mais leigo, embora recomende a alguns experts que estejam dispostos a instruir novas pessoas para essa paixão que se chama cinema.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Resenha: O Natal de Poirot


Natal sangrento

Que data mais perfeita do que o Natal para estrear uma resenha sobre um livro da majestosa rainha do crime aqui no blog! E especialmente o seu livro mais natalino e tido como o mais 'sangrento'.

Este alerta sobre sangue é ela mesma quem faz, em uma espécie de mensagem-prefácio ao livro, dedicada ao seu cunhado:


"Meu Querido James


Você sempre foi um dos meus leitores mais fieis e bondosos e, por isso mesmo, fiquei seriamente perturbada ao receber seu comentário crítico.
Queixou-se de que meus assassinatos estariam ficando refinados demais – na verdade, anêmicos. Demonstrou, também, o desejo de “um assassinato dos bons, violento e cheio de sangue”. Um assassinato em que não houvesse dúvida de ser assassinato!
Pois esta aí a história que escrevi especialmente para você. Espero que lhe agrade.
Com todo o carinho, de sua cunhada."


É véspera de Natal. A reunião da riquíssima e poderosa família Lee é arruinada pelo barulho ensurdecedor de móveis sendo destroçados, seguido de um grito agudo e sofrido. No andar de cima, o tirânico Simeon Lee está morto, numa poça de sangue, com a garganta degolada. Mas quando Hercule Poirot, que está no vilarejo para passar o Natal com um amigo, se oferece para ajudar, depara-se com uma atmosfera não de luto, mas de suspeitas mútuas. Parece que todos tinham suas próprias razões para detestar o velho...

Isso inclui quatro de seus filhos, três cunhadas, um enfermeiro pessoal, um mordomo e uma recém-chegada e reconhecida neta do morto, que foi gerada pela sua única filha,há anos fugida de casa, junto a um aventureiro espanhol e  já falecida.

O interessante dos romances de Agatha são os personagens que nele desfilam, em especial este, todos envoltos no mais espesso véu da ambigüidade. São realmente bons ou maus? Quais suas verdadeiras intenções?

A história é basicamente esta. Não me aprofundarei mais porque acabo correndo o risco de falar mais a respeito da mesma e deixando possíveis leitores chateados com informações que estraguem a sua leitura. Afinal, mistério é mistério.

Mas confesso que diverti-me bastante com este livro. Tinha em mente ler algo mais leve e condizente com o clima natalino neste final de ano, como o fiz ano passado, lendo Cântico de Natal do Dickens, mas este ano calhou deste aparecer em minha pilha de livros por ler.

Corra então e leia o seu exemplar. Senão, terá de esperar até o próximo natal para saber quem é o assassino. E creio que isto seria algo que você não gostaria de perder, não é?

Até a próxima!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Frases (XII)

"Sugestões de presente para o Natal: Para seu inimigo, perdão. Para um oponente, tolerância. Para um amigo, seu coração. Para um cliente, serviço. Para tudo, caridade. Para toda criança, um exemplo bom. Para você, respeito ". 

[Oren Arnold, escritor norte-americano]


Um feliz natal a todos os que acompanham o blog de alguma forma.
Voltem sempre e obrigado por tudo!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Trecho selecionado (X)


"Aliás, estou decidido a calar-me agora mais do que nunca, a fim de não proporcionar aos meus algozes o espetáculo de uma covardia que não tenho e que jamais será minha. Torturem-me até a mutilação, ponham-me nu quantas vezes queiram, eu que já vivo nu sem que eles o percebam; deixem-me incomunicável em minha cela como se eu fora um anacoreta, eu que de fato sou um oásis cercado de deserto por todos os lados; — força nenhuma me fará abdicar de minha força ou mesmo de minha fraqueza, como nenhum instrumento de tortura me fará sair da minha pele, que afinal é a minha cidadela. Posso gritar, e acredito mesmo que venha a gritar muitas vezes, já que para isso foi dado o grito ao homem e o grito é apenas uma forma de defesa como outra qualquer; jamais, porém, me farão dizer A quando é B ou J que eu deva dizer, nem me crucificarão impunemente, sem que eu lhes responda com um riso de escárnio na boca ensangüentada."


[Trecho de A Lua vem da Ásia, de Campos de Carvalho]

Escolhido especialmente hoje para o blog por uma mulher que considero incrível: Lucila Casseb Pessoti, de Salvador, BA. Força na peruca, Lu! Que nada de ruim te faça abdicar dela.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Poesia (X)


A Solidão e sua Porta


Quando mais nada resistir que valha

a pena de viver e a dor de amar

E quando nada mais interessar,

(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha

a barba livremente caminhar

e até Deus em silêncio se afastar

deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida

do mundo que te foi contraditório,

lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório

e de que ainda tens uma saída:

entrar no acaso e amar o transitório.


[Poesia do poeta pernambucano Carlos Pena Filho, retirada de sua antologia Poemas e escolhida por mim. Ilustrando o post, uma de suas raríssimas fotografias, com a filha Clara Maria, por volta dos anos de 1960.]

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Resenha: Clube dos vampiros


Sookie adquire mais experiências e... hematomas

Inicio esta resenha fazendo uma crítica um pouco ácida a esta edição brasileira do livro. Se você não leu ainda os livros anteriores, não leia o próximo parágrafo, que está em itálico. Vá direto ao próximo depois dele, pois este em questão contém um SPOILER., uma revelação importante do livro anterior a qual com certeza você não quer saber se ainda não o leu. Por isso, não quero ser mais um dos inúmeros estraga-prazeres espalhados pela internet que ficam contando, inconsequentemente e em riquezas de detalhes, as passagens importantes e até mesmo finais de diversos livros que nem todos conhecem ainda.

Não sei se está de acordo com a editora original, mas a Benvirá (selo editorial recente do Grupo Saraiva), no afã de relacionar o livro com a série, colocou uma foto com todo o elenco de True Blood na capa, o que constitui um equívoco terrível. Mas como, se a Tara que conhecemos na série sequer aparece nos livros e seu primo Lafayette, também presente nela, já até morreu no segundo? Sei que na série ele continua vivíssimo, mas convenhamos: livro é livro e série é série. E se há algo que realmente tenho estranhado muito nas edições nacionais da série em livro é esse troca-troca de editoras. Morto Até o Anoitecer, o primeiro livro, saiu pela Ediouro. Vampiros em Dallas, o segundo, saiu pela ARX. Sabe por onde o próximo sairá se essa Benvirá não se estabelecer como a Editora definitiva dos livros de Charlaine Harris em terras brasileiras.

Mas, focando agora no livro, Clube dos vampiros é o terceiro livro de Charlaine sobre as aventuras da garçonete telepata Sookie Stackhouse e dos companheiros nada convencionais que a acompanham nessas empreitadas, como os vampiros Bill (namorado), Eric, Pam, Bubba e uma uma infinidade de outras criaturas estranhas, como mutantes e lobisomens, que cruzam seus caminhos na pequena e aparentemente pacata cidade de Bon Temps, na Louisina (EUA).

A história se inicia com fortes indícios de que a relação de Bill e Sookie não é mais a mesma, desde que se conheceram. Distante, frio, desinteressado por climas românticos, Bill anda às voltas com missões secretas que lhe foram designadas pela rainha vampira da Louisiana, tão secretas que nem mesmo Eric, seu superior imediato, sabe de suas existências. Ou talvez desconfie.

Um rompimento entre os dois então é inevitável e mesmo arrasada, Sookie tenta retomar sua vida do zero, como se isso fosse possível. Após certo tempo, recebe a visita do próprio Eric, em pessoa e de Pam, sua assistente, que lhe noticiam o desaparecimento de Bill, e interessadíssimos, claro, em  saber também o que poderia ter ocasionado esse súbito e inexplicado desaparecimento.

Ainda fiel a Bill, Sookie diz aos vampiros desconhecer os motivos que levaram ao seu desaparecimento, mas se compromete em ajudar a encontrá-lo, ainda mais quando é informada de que Bill pode estar prisioneiro nos domínios do rei vampiro do Mississipi. 

Como Eric e nem Pam, sendo vampiros de outro território não podem circular no outro Estado, resolvem designar então um novo companheiro de aventuras para a telepata, que acaba um tanto abalada em suas estruturas quando conhece o sujeito em questão.

Trata-se de Alcide Herveaux: sujeito alto, moreno, musculoso e sensual que possui as qualidades que uma donzela casadoira e aspirante a uma vida normal mais deseja em um marido, incluindo-se aí adjetivos como rico, trabalhador e supostamente honrado e honesto. Porém, no caso particular de Sookie nada em sua vida é perfeito. Mesmo livre e desimpedido no momento, Alcide, revela ser, na verdade, um lobisomem. E que deve favores a Eric.

Apresentações feitas e empatia imediata entre os novos parceiros, Alcide e Sookie dirigem-se imediatamente a Jackson, Mississipi onde o pai do jovem lobisomem possui negócios e onde Alcide também é bem conhecido no meio 'sobrenatural' do lugar. E se pretendem realmente descobrir o paradeiro de Bill, devem freqüentar o lugar mais barra pesada da cidade, o Club Dead. Mas esta missão não será nem um pouco fácil, ainda mais quando vampiros desconfiados, mutantes ciumentos e outros lobisomens, de índole vingativa, cruzam o caminho dos dois.

Mas o pior ainda está por vir quando Sookie descobrir que o que motivou Bill a deixá-la foi uma rival amorosa com cerca de dois séculos de idade...

Particularmente, acho que a série tem mantido o seu nível até aqui. Os personagens são sensuais, cativantes, mas os enredos deixam um pouco a desejar. Eu imaginava muito mais suspense e obstáculos a superar neste terceiro livro, o que não foi o caso. Tudo se resolveu tão facilmente.

Mesmo assim, acredito que os próximos volumes trarão novo frescor à série e talvez uma maior maturidade literária da autora, já que criatividade não lhe falta. Este, em particular, foi uma espécie de divisor de águas, porque agora Sookie está praticamente livre e desimpedida nas questões do amor e possui três magníficos pretendentes a seus pés, embora um deles tenha perdido completamente a sua confiança. Vamos ver então o que nos reserva a série num futuro próximo.

Até o próximo então!

Resenha: A marca de uma lágrima


O amor pode estar bem ao seu lado (preste atenção)

Adolescente que se acha feia, gorda, dona de um intelecto brilhante que se apaixona pelo menino mais bonito da escola que está na verdade interessado em sua melhor amiga, lindíssima e sem conteúdo. Parece até enredo de novela mexicana, não é?

Na verdade não. Trata-se de uma adaptação do francês Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand. A diferença com o original é que nele temos um exímio espadachim e poeta que é apaixonado por sua prima e vendo que ela  corresponde a seu melhor amigo, faz de tudo para ajudá-lo a conquistá-la. Não tem coragem de fazê-lo por causa de seu avantajado nariz.

Nunca li Cyrano, mas talvez um dia eu o faça. Só sei que este livro de Pedro Bandeira foi um dos que mais marcaram a minha adolescência, especificamente aos 14 anos de idade, a mesma de Isabel, a protagonista.

Isabel, como disse anteriormente, é genial, do tipo a melhor aluna da classe, especialmente em língua portuguesa, sua disciplina favorita. Escritora praticamente nata, seu passatempo preferido é dar asas à sua imaginação e escrever as mais belas poesias típicas de sua idade, que refletem seus anseios, medos, aflições e desejos, já que é filha de pais separados e seu convívio com a mãe não é dos melhores, pois esta vive com enxaqueca desde que o marido a largou por outra mulher.

No livro, estamos em mais um começo de ano letivo que prometia ser normal para Isabel, tirando o divórcio dos pais. O que ela não esperava (e acho que ninguém espera) era a chegada do primeiro amor, na pessoa de um primo distante que não via desde a infância, chamado Cristiano.  Filho único da tia Adelaide (irmã de sua mãe que vive de mudanças), Cristiano é a personificação da beleza perfeita, aos olhos de Isabel, isenta de quaisquer defeitos. 

A empatia entre os dois, a nível de amizade, é imediata. Porém, para a frustração de Isabel, Cristiano demonstra ter interesses românticos por sua melhor amiga, a bonitona porém simplória Rosana. Incapaz de manter um romance com o primo, por conta da baixa auto-estima e também por lealdade à melhor amiga, resolve ajudar esta a conquistar seu primo, escrevendo cartas e poesias de amor que Rosana assina como se fossem de sua autoria. E o que Isabel jamais imaginaria era que o seu trabalho se tornaria um diferencial na paixão entre os dois jovens.

Triste, Isabel pensa em morrer. Pais separados, amor não correspondido, aparência horrenda (que seu pior inimigo, o Espelho do Banheiro não cansa de apontar em detalhes sádicos), nada mais em sua vida tem sentido. E o que não andava bem acaba piorando quando, involuntariamente, acaba tornando-se testemunha de um crime em sua própria escola. Envenenada com cianureto (como descobriremos depois), a diretora da escola acaba sendo encontrada morta por Isabel e seu colega Fernando em seu gabinete.

Histórias mal-explicadas com relação ao assassinato, evidências, uma maior proximidade com Fernando e a adrenalina fazem com que Isabel esqueça por alguns momentos a vontade de morrer. A partir desse momento, tudo o que tem de fazer é evitar de ser morta, pois o assassino está em seu encalço.

Romance aliado ao suspense tornam A Marca de Uma Lágrima um livro bastante inesquecível. Afinal, quem um dia não foi um adolescente que se sentiu deslocado no mundo, que amou sem ser correspondido ou que até mesmo presenciou um assassinato? Hehehe! Brincadeiras à parte, é realmente difícil alguém ter presenciado uma morte tão trágica, mas as demais dores do adolescer e crescer já foram nossas um dia.

Recomendo este livro a todos. Aos saudosistas da juventude e principalmente aos jovens de agora. Enquanto muitos de vocês perdem seu precioso tempo focando em um amor impossível, de sonhos e devaneios, podem descobrir, com Isabel e com este livro, que ele pode estar bem ao seu lado, o tempo todo, bastando para isso prestar um pouco mais de atenção à própria vida. E que muitas de nossas inseguranças, especialmente aquelas relacionadas com uma baixa auto-estima, muitas vezes, são apenas coisas de nossa cabeça, valores deturpados que erroneamente enraizamos em nossos corações.

Eu, sempre que tenho vontade, releio esse livro e me sinto bem. Façam como eu.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Poesia (IX)


Epigrama nº 7

A TUA RAÇA de aventura
quis ter a terra, o céu, o mar.

Na minha, há uma delícia obscura
em não querer, em não ganhar...

A tua raça quer partir,
guerrear, sofrer, vencer, voltar.

A minha, não quer ir nem vir.
A minha raça quer passar.


[Cecília Meirelles]

Selecionada para o blog especialmente pelo amigo 
Lima Trindade, de Salvador, BA. Obrigado, meu poeta!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Trecho selecionado (IX)


"Ele queria subir, a mediocridade o sufocava, a pobreza cheirava morte. E a sua carreira finalmente tinha sido como um elefante sagrado caminhando sobre um tapete de criaturas humanas, de almas que suas patas brutais esmagavam.

Agora todo o seu velho sonho está desfeito em poeira, é como cinza áspera que lhe foge por entre os dedos, deixando-lhe na alma um ressabio amargo. No fim de contas que é ele ao cabo de tantas crueldades? De tanta agitação, de tantos conflitos? Nada. Um homem medíocre que, tendo procurado o sucesso através dum casamento rico, acabou encontrando nele apenas as mesmas inquietudes e incertezas do tempo de pobreza, a antiga e dolorosa sensação de inferioridade." 


[Trecho de Olhai os lírios do campo, de Erico Veríssimo]

Selecionado para o blog especialmente por  
Soeli Forte, de São Pedro de Alcântara, SC. Muito obrigado, Suca!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Minha vida de leitor (IV)


Ninguém esquece do primeiro Vaga-Lume

Observando o blog nesta última semana, senti que nele faltava algo, que uma lacuna precisava ser preenchida o mais rápido possível, já que me propus a falar a respeito de livros sem quaisquer preconceitos ou limitações, a partir do momento que o criei.

Essa lacuna remete aos primeiros livros que li e as impressões que tive ao lê-los, mesmo que isso tenha acontecido há muito tempo atrás.

Aqui no Brasil, como forma de estimular a leitura entre os estudantes, é bastante comum e difundido no meio escolar a adoção das famosas leituras extraclasse, ou seja, livros que os professores recomendam ou impõem aos alunos e sobre os quais farão algum trabalho futuro, com eles relacionados, tais como uma prova, um trabalho de pesquisa ou até mesmo um seminário em sala de aula. Acredito que todos os brasileiros que tiveram a oportunidade de sentar em um banco de escola na vida já passaram por esta experiência.

Em 1972, a Editora Ática criou uma coleção de livros que tinha como função primordial atender à demanda desse mercado que começava a crescer. E essa coleção, que existe até hoje, é a velha e conhecidíssima Coleção Vaga-Lume, que felizmente, está longe de seu fim e cresce cada vez mais. Inicialmente contando com apenas algumas dezenas de livros, hoje os mesmos já formam centenas.

E como não lembrar então do primeiro Vaga-Lume?

O meu não foi fruto de nenhuma leitura extraclasse obrigatória, mas sim de um empréstimo de uma vizinha. Saturado de livros infantis e de histórias em quadrinhos, um dia, espontaneamente, resolvi ler algo diferente e esse título foi Um Cadáver Ouve Rádio, do Marcos Rey.

Não me sentiria tão desnorteado a princípio com a leitura. Acostumado com livros que sempre tinham inúmeras ilustrações, os livros da Vaga-Lume também tinham as suas, mesmo que poucas e espalhadas entre os capítulos. Bela forma de se introduzir leituras deste tipo aos leitores mais jovens e inexperientes. E sem saber, eu já começava o processo tendo em mãos um dos livros do autor mais popular de toda a coleção, justamente o Rey.

Marcos Rey (pseudônimo de Edmundo Donato) já é falecido, tanto que suas cinzas foram jogadas de helicóptero sobre a cidade que tanto amava, São Paulo, onde nasceu e que usou como cenário de várias de suas obras, inclusive a sua primeira que me propus a ler. Em vida, o autor se dedicou à várias atividades onde a escrita era sua guia. Foi tradutor, escritor, roteirista, dramaturgo. Um indivíduo bastante versátil nas letras e que faz falta aqui nesse nosso mundinho caótico.

Mas voltando ao livro, pode-se dizer que foi também o meu primeiro policial. E na época me causou tão boa impressão que, nos anos vindouros, o gênero passou a ser um dos meus favoritos. Ele narra os acontecimentos que giram em torno de um cadáver que é encontrado dentro de um prédio em construção, o corpo de bruços, com um rádio ligado. O cadáver era de um homem de que todos gostavam no Bairro do Bixiga, em São Paulo. Era o sanfoneiro chamado Alexandre, mais conhecido como ‘Boa-Vida’.

Deparando-se com essa situação inusitada e sem quaisquer pistas que o levem ao assassino ou assassinos do sanfoneiro, o delegado distrital, Doutor Arruda decide pedir então ajuda ao trio de jovens detetives conhecidos no bairro, Leo, Gino e Angela, famosos por desvendarem anteriormente o Mistério do Cinco Estrelas e também o Rapto do Garoto de Ouro, que além de casos também são títulos de outros livros do autor em que estes personagens aparecem e que também fazem parte da Coleção Vaga-Lume.

Quem teria motivos para matá-lo? Boa-Vida era casado, mas ele e a ex-mulher não moravam mais juntos. Para piorar a situação, dias depois de sua morte ela também morre, em circunstâncias misteriosas. Seria o mesmo assassino? Por que teria a matado também?

Vários suspeitos são colocados na roda do inquérito policial, como alguns vizinhos do tal prédio, vistos em circunstâncias misteriosas no dia do crime, a própria esposa do morto, antes de ser assassinada e até um sanfoneiro rival do Boa-Vida, por causa da acirrada concorrência entre ambos.

Mas o que parecia complicado se complica mais ainda quando a arma do crime é finalmente encontrada: um estranho sabre de procedência chinesa.

Ficou curioso para saber o desfecho? Procure pelo livro e faça como eu, leia-o sem compromisso. Não sei se terá a mesma magia e mistério que teve para mim em tempos de outrora, mas acredito que saciará sua curiosidade em saber quem é o criminoso da história.

E breve, por aqui, mais títulos da Vaga-Lume que li, aparecerão. Portanto, até a próxima!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Resenha: A sopa de Kafka


Finas iguarias para leitores de paladares exigentes 

A sopa de Kafka é um livro inusitado e com uma proposta bem original: ser uma espécie de livro incomum de culinária, que contém receitas que foram mescladas a contos que foram batizadas com os nomes de grandes escritores da humanidade.

Mas não é apenas só isso. Cada conto escrito pelo autor remete ao estilo literário de cada um dos homenageados na obra. Tratam, basicamente, do preparo e da degustação de cada uma das iguarias selecionadas para compor o livro. E eu que adoro literatura e gastronomia adorei simplesmente enxerguei em A Sopa de Kafka a união do útil ao agradável.

O autor escolheu cuidadosamente seus ingredientes literários e marinou tudo em ironia e criatividade, adicionando generosas colheradas de humor ao apresentar elaboradas receitas como o 'Cordeiro ao Molho de Endro', onde encontramos o estilo noir de Raymond Chandler. Em 'Ovos com Estragão', o estilo mulherzinha de Jane Austen é inconfundível e em 'Sopa Rápida de Missô' (conto que remete ao título do livro), sentimos com clareza a influência de Franz Kafka.

Outros contos que merecem destaque são 'Delicioso bolo de chocolate', completamente impregnado pela porra-louquice de Irvine Welsh., 'Tiramisu', em homenagem a Marcel Proust, onde o puro saudosismo, característico do autor, dá as caras e Coq au vin', que reverencia Gabriel Garcia Márquez. Até o realismo fantástico que é a marca de suas obras está lá, na figura de um homem que vive em um vilarejo distante e desconhecido da América Latina e que nunca dorme, só durante as missas.

'Risoto de Cogumelo' homenageia John Steinbeck e 'Galeto Recheado' é puro Marquês de Sade. Também super recomendáveis. O estilo cerebral de Virginia Woolf foi registrado com maestria pelo autor em 'Clafoutis Grandmère', que é uma espécie de doce com cerejas, caso algum leigo se pergunte do que se trata. E em 'Fenkata', temos até o estilo épico do grego Homero.

Os outros contos restantes homenageiam Graham Greene, Jorge Luis Borges, Harold Pinter e Geoffrey Chaucer. Embora nunca tenha lido nada de algum deles para avaliar se os contos lhe foram fidedignos, gostei muito do que li. Aliás, gostei muito do livro inteiro e com certeza ele passará a figurar entre os meus favoritos.

Para dar o toque perfeito a esta rara iguaria, Mark Crick criou também divertidas ilustrações, parodiando assim nomes como Andy Warhol, William Hogarth, Jean Cocteau, Vincent Van Gogh e Henry Moore. Elaborados para deliciar os amantes dos livros e da culinária, os pastiches literários são um brinde aos gourmets literários internacionais. Uma leitura imperdível e uma sugestão divertida de presente para este final de ano. Adquira o seu sem receios.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Nossa Língua (VI)


Brasil e Portugal, às vezes, podem ser dois países separados pelo mesmo idioma. Hehehe!

Hoje no blog um texto bem legal do Ruy Castro que li pela primeira vez aos 16 anos, quando cursava a 8ª série do 1º Grau (atual 9º Ano do Ensino Fundamental). Espero que gostem tanto quanto eu gostei e ainda gosto.

Como ser brasileiro em Lisboa sem dar na vista


"Sim, eu sei que não será culpa sua, mas, se você desembarcar em Lisboa sem um bom domínio do idioma, poderá ver-se de repente em terríveis "águas de bacalhau". Está vendo? Você já começou a não entender. O fato é que como dizia Mark Twain a respeito da Inglaterra e dos Estados Unidos, também Portugal e Brasil são dois países separados pela mesma língua. Se não acredita veja só esses exemplos, (...)


Um casal brasileiro, amigo meu, alugou um carro e seguia tranqüilamente pela estrada Lisboa-Porto, quando deu de cara com um aviso: "Cuidado com as BERMAS". Eles ficaram assustados – que diabo seria berma? Alguns metros à frente, outro aviso: “Cuidado com as bermas". Não resistiram, pararam no primeiro posto de gasolina, perguntaram o que era uma berma e só respiraram tranqüilos quando souberam que BERMA era o ACOSTAMENTO.

Você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os TERNOS – peça para ver os FATOS, PALETÓ é casaco. Meias são PEUGAS, suéter é CAMISOLA – mas não se assuste, porque calcinhas femininas são CUECAS. (Não é uma delícia?). Pelo mesmo motivo, as fraldas de crianças são chamadas CUEQUINHAS DE BEBÊ. Atenção também para os nomes de certas utilidades caseiras. Não adianta falar em esparadrapo – deve-se dizer PENSOS. Pasta de dentes é DENTÍFRICO. Ventilador é VENTOINHA. E no caso (gravíssimo) de você tomar uma injeção na nádega, desculpe, mas eu não posso dizer porque é feio.

As maiores gafes de brasileiros em Lisboa acontecem (onde mais?) nos restaurantes, claro. Não adianta perguntar ao gerente do hotel onde se pode beliscar alguma coisa, porque ele achará que você está a fim de sair aplicando beliscões pela rua. Pergunte-lhe onde se pode PETISCAR. Os sanduíches são particularmente enganadores: um sanduíche de filé é chamado de PREGO; cachorros-quentes são simplesmente CACHORROS. E não se esqueça: Um cafezinho é uma BICA; uma média é um GALÃO, e um chope é uma IMPERIAL. E, pelo amor de Deus, não vá se chocar quando você tentar furar uma fila e algum gritar lá de trás: "O gajo está a furar a BICHA!" Você não sabia, mas em Portugal chama-se fila de bicha. E não ria.

Ah, que maravilha o futebol em Portugal Um goleiro é um GUARDA-REDES. Só isso e mais nada. Os jogadores do Benfica usam CAMISOLA ENCARNADA – ou seja, camisa vermelha. Gol é GOLO. Bola é ESFÉRICO. Pênalti é PENÁLTI. Se um jogador se contunde em campo, o locutor diz que ele se ALEJOU, mesmo que se recupere com uma simples massagem. Gramado é RELVADO, muito mais poético, não é? (...)

Para entender as crianças em Portugal, pedagogia não basta. É preciso traçar também uma outra lingüística. Para começar, não se diz crianças, mas MIÚDOS. (Não confundir com miúdos de galinha, que são chamados de MIUDEZAS. Os miúdos de galinha portuguesa são os PINTOS). Quando um guri inferniza a vida do pai, este não o ameaça com a tradicional " dou-lhe uma coça!”, mas com "Dou-te uma TAREIA!", ou então com o violentíssimo “Eu chego a roupa à pele!"

Um sujeito preguiçoso é um MANDRIÃO. Um indivíduo truculento é um MATULÃO. Um tipo cabeludo é um GADELHUDO. Quando não se gosta de alguém, diz-se: "Não gamo aquele gajo". Quando alguém fala mal de você e você não liga, deve dizer: “Estou-me nas tintas", ou então: "Estou-me marimbando” (...) Um homem bonito, que as brasileiras chamariam de pão, é chamado pelas portuguesas de PESSEGÃO. E uma garota de fechar o comércio é, não sei por quê, um BORRACHINHO.

Mas o meu pior equívoco em Portugal foi quando pifou a descarga da privada do meu quarto de hotel e eu telefonei para a portaria: "Podem me mandar um bombeiro para consertar a descarga da privada"? O homem não entendeu uma única palavra. Eu devia Ter dito: "Ó PÁ, MANDA UM CANALIZADOR PARA REPARAR O AUTOCLISMA DA RETRETE".


[Castro Ruy “Como ser brasileiro...” 
Viaje bem revista de bordo da VASP, ano Vlll n.3/78]

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Poesia (VIII)



Farpas

Da mesma pedra
somos feitos 
Tu e eu
Do mesmo talhe
o nosso corte
o mesmo sulco
na nossa carne.
Da mesma terra.

E é por isso
que nós sofremos
dos mesmos atos
das mesmas marcas,
que carregamos
o mesmo crime.

E é por isso
que em nós nos flui
o mesmo sangue
que nos escorre
a mesma água
de gosto bravo
e que trazemos
a mesma febre
a mesma sede
o mesmo germe.

E que vivemos
do mesmo instinto
e precisamos
do mesmo grito.

E é por isso
que embarcamos
na mesma viagem
tendo nas mãos
as mesmas linhas
os mesmos traços.
O mesmo cheiro
teu corpo e o meu.
O mesmo arame
na nossa cerca.
O mesmo rasgo.

[Poesia da atriz Bruna Lombardi
retirada de seu livro No Ritmo Dessa Festa]

Selecionada para o blog especialmente pelo amigo 
Divair Laurindo Rosa, de Curitiba, PR. Obrigado, Divair!

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