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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dicas preciosas para organizar e conservar sua biblioteca



Montando a sua biblioteca? Substituindo uma estante pequena por outra mais espaçosa? Não faz a menor idéia de como arrumar seus livros? Hoje, no Pérolas da Compulsão algumas dicas preciosas para organizar seu canto literário e conservá-lo intacto e livre de perigos e ameaças. Vamos a elas então?

01) Grandes quantidades de livros são pesadas. Dê atenção à espessura das prateleiras.

02) O livro deve ser constantemente manuseado. O virar das páginas oxigena o material, impede a acumulação de microrganismos que atacam o papel e colabora para que as folhas não fiquem ressecadas e quebradiças.

03) Folheie rápida e cuidadosamente o livro, sempre que for colocá-lo de volta na prateleira. Isso vai arejá-lo.

04) Não guarde os livros acondicionados em sacos plásticos, pois isto impede a respiração adequada do papel.

05) Evite encapar os livros com papel pardo ou similar. Essa aparente proteção contra a poeira causa, na realidade, mais dano do que benefício ao volume em médio e curto prazo. O papel tipo pardo, de natureza ácida, transmite seu teor ácido para os materiais que estiver envolvendo (migração ácida).

06) Livros com a capa danificada pedem encadernação nova - menos que se trate de uma raridade. Há quem encape vários livros com papel de uma mesma cor para dar à estante um aspecto mais organizado. Mas os verdadeiros amantes de livro ficam de cabelo em pé ao ouvir isso. Assumir que os livros têm cores e tamanhos diferentes é mais rico, sincero e benéfico para a sua decoração.

07) Não utilizar fitas adesivas tipo durex e fitas crepes, cola branca (PVA) para evitar a perda de um fragmento de um volume em degradação. Esses materiais possuem alta acidez, provocam manchas irreversíveis onde aplicados.

08) Faça uma vistoria anual. Retire todos os livros, limpe-os com um pano seco. Limpe a estante com um pano úmido. Evite passar produtos fortes do tipo lustra-móveis, já que seus resíduos podem infiltrar no papel.

09) A profundidade ideal para uma estante de revistas é de 25 cm. Uma medida maior deixaria um espaço vazio bom para acumular pó. Já os livros de arte pedem 35 cm. Deixe 40 cm de altura entre uma prateleira e outra - assim você acomoda desde pilhas de revistas até as edições maiores.

10) Deixe sempre um espaço entre estantes e parede. A parede pode transmitir umidade aos livros. E, com a umidade, surgem os fungos.

11) Armários e estantes devem ser arejados. Estantes fechadas devem ser periodicamente abertas.

12) Estantes de metal são preferíveis do ponto de vista da conservação dos livros.

13) Não use clipes como marcadores de páginas. O processo de oxidação do metal mancha e estraga o papel.

14) Em estantes de madeira, pense em revestir as prateleiras com vidro. Não use tintas a base de óleo.

15) Bibliotecas devem ser freqüentadas. Nem pense em porões. Baixa freqüência de pessoas aumenta a incidência de insetos. Considere um tratamento anual contra traças.

16) Não guarde livros inclinados. Aparadores podem mantê-los retos.

17) Encadernações de papel e tecido não devem ser guardadas em contato direto com as de couro.

18) Na prateleira, os livros devem ficar folgados. Sendo fáceis de serem retirados, duram mais. Comprimidos nas prateleiras induzem a sua retirada de maneira incorreta, o que danifica as lombadas e fatalmente leva ao dano da encadernação. Livros apertados também favorecem o aparecimento de cupins.

19) Quando tirar um livro da prateleira, não o puxe pela parte superior da lombada, pois isso danifica a encadernação. O certo é empurrar os volumes dos dois lados e puxar o volume desejado pelo meio da lombada.

20) A melhor posição para um livro é vertical. Livros maiores devem ter prateleiras que permitam isso. Em último caso deixe-os horizontalmente, tomando-se o cuidado de não sobrepor mais de três volumes.

21) Luz do sol direta nem pensar. O sol desbota e entorta as capas.

22) Se for um livro antigo ou de algum outro valor ou de maior sensibilidade, lave as mãos antes de folheá-lo, já que mãos engorduradas contribuem para a aceleração da decomposição do papel. Evite umedecer as pontas dos dedos com saliva para virar as páginas do livro.

23) Ao ler um livro, evite abri-lo totalmente, como por exemplo, em cima de uma mesa. Isto pode comprometer a estrutura de sua encardenação.

24) Livros podem estar agrupados por gênero (romances policiais, literatura latino-americana), por autor ou por ordem alfabética (de nome ou de título). Mas você precisa descobrir como se sente melhor para procurar e encontrar sem demora os seus livros.

25) Livros de arte, como fotografia, dão volume e sempre são um prazer ao alcance dos olhos. Dê movimento à sua estante escolhendo alguns deles para deixar com a capa à mostra.

26) Coloque alguns volumes deitados e outros de pé. Essa disposição dá movimento à estante. Evite a monotonia.

27) Empilhe as revistas por título, em ordem de lançamento - assim, a mais nova sempre estará em cima. Revistas de assinatura mensal não devem formar pilhas de mais de três anos (36 exemplares) ou a consulta fica muito complicada. 

28) Quanto às edições mais antigas das revistas, estas precisam ceder espaço às mais novas. Faça uma doação. Em escolas e hospitais elas são sempre bem-vindas. Edições avulsas podem ser agrupadas. Se possível faça o agrupamento respeitando o tamanho e o assunto de que elas tratam.

29) Porta-retratos, bolas de vidro e outras peças queridas trazem equilíbrio quando dispostas junto aos livros. Agrupe os itens semelhantes e observe a simetria: se há um nicho com porta-retratos de um lado, faça um nicho de volume parecido do outro - com livros ou uma caixa.


Dicas retiradas do site Casa.com.br e do Blog Livros e Afins, de Alessandro Martins.
Ilustração do post: Ziraldo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Trecho selecionado (VII)


"Falta muito? Não, basta atravessar aquele rio lá longe, no fundo, ultrapassar aquelas verdes colinas. Ou já não se chegou, por acaso? Não são talvez estas árvores, estes prados, esta casa branca o que procurávamos? Por alguns instantes tem-se a impressão que sim, e quer-se parar ali. Depois ouve-se dizer que o melhor está mais adiante, e retoma-se despreocupadamente a estrada. Assim, continua-se o caminho numa espera confiante, e os dias são longos e tranqüilos, o sol brilha alto no céu e parece não ter mais vontade de desaparecer no poente.
Mas a uma certa altura, quase instintivamente, vira-se para trás e vê-se que uma porta foi trancada às nossas costas, fechando o caminho de volta. Então, sente-se que alguma coisa mudou, o sol não parece mais imóvel, desloca-se rápido, infelizmente, não dá tempo de olhá-lo, pois já se precipita nos confins do horizonte, percebe-se que as nuvens não estão mais estagnadas nos golfos azuis do céu, fogem, amontoando-se umas sobre as outras, tamanha é sua afoiteza; compreende-se que o tempo passa e que a estrada, um dia, deverá inevitavelmente acabar."


Trecho de "O deserto dos Tártaros", de Dino Buzzati, escolhido especialmente para o blog pela minha amiga querida Marcia Regina, de Porto Alegre, Rio Grande de Sul. Muito obrigado, Marcia! Eu e o Brasil inteiro te adoramos!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Poesia (IV)


Eu sei que a primavera já começou a alguns dias, que estou atrasado e que na região em que vivo ela não é uma estação bem definida. Aqui, ela acontece geralmente em maio, na transição da estação úmida para a quente e é chamada pelas pessoas de primavera matuta.

Mas por estes dias vi tantas pessoas exaltando a sua chegada no hemisfério sul que eu não poderia deixar de fazer uma menção a ela por aqui. Por isso, resolvi proporcionar aos meus leitores e seguidores um momento poético onde ela, a estação das flores, é a soberana.

É primavera!

Já secou o chão molhado, tão escorregadio;
Refez-se o amor que o orgulho decompusera;
Passou a noite medonha, a enxurrada, o frio;
Vejam só que maravilha: chegou a primavera!

E esse cheiro tão bom de mato verde no ar;
A manhã que acorda e em matizes exubera;
As águas, os pássaros, as cigarras a cantar;
Ah! Eu nem preciso adivinhar: é a primavera!

Enxugou-se a lágrima, agora há riso, perdão;
Nada mais me tira do sério, nem me exaspera;
Mais verdade em meus dias, mais compaixão;
Mais perfume, mais luz: bem-vinda, primavera!

Agora a esperança sobrepuja os servis temores;
Nenhum presságio de morte de mim se apodera;
Que me encham os olhos e a alma de mil amores;
Porque aqui dentro do peito também é primavera!


Poesia de Lídia Vasconcelos e foto de Fabio Pignatelli 
(campo de flores nos arredores de San Giorgio Ionico, Taranto, Itália).

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Resenha: Fome de Loba


Lobisomens à solta

A literatura fantástica, voltada ao sobrenatural, é uma realidade em nossos dias. Nas livrarias de todo país e de todo o mundo surgem cada vez mais novos autores e novas publicações dispostos a tornar o tema inesgotável entre o público leitor, especialmente os mais jovens, por serem ávidos pelo estilo, menos exigentes com o que lêem e pouco propensos a preconceitos literários.

Após lidar ultimamente com uma horda inteira de vampiros (os mais comuns seres sobrenaturais da literatura atual), resolvi encarar desta vez os lobisomens, neste “Fome de Loba”, o primeiro livro da canadense Kelley Armstrong.

Sua estréia, entretanto, não poderia ter sido a mais sem graça possível no mundo da literatura. Embora com ingredientes e argumentos que poderiam ter resultado em um livro brilhante, este deixou bastante a desejar, especialmente pela sua previsibilidade e situações manjadas.

A história da obra gira em torno da bela e atormentada Elena Michaels, único exemplar feminino de lobisomem no mundo. Quando criança, sofreu um acidente de carro que a deixou órfã e, criada por uma família que mais tarde a abandonaria, ela viu sua vida se modificar por completo após ser mordida por um namorado, o imprevisível Clay.

Após o fato, sobreviveu inexplicavelmente à mordida, ao contrário de muitas de suas antecessoras, que jamais resistiram à metamorfose lupina e por isso, acabou sendo adotada pelo grupo de homens-lobo do qual o próprio Clay fazia parte, um grupo fechado e cheio de regras cujos principais preceitos consistem na preservação da espécie, no controle monitorado dos "desgarrados" (os que não pertencem ao Bando), na proteção dos demais lobisomens e do território e no principal deles, a determinação de não matar por prazer e não interferindo na vida humana.

Kelley Armstrong, portanto, conferiu aos lobisomens, seres fantásticos que alimentaram lendas e histórias na cultura de vários povos uma história, moral e sentimentos, a exemplo do que a escritora Anne Rice faz com os vampiros. A autora, porém, foge de estereótipos e cria uma trama de suspense que explica os códigos de conduta, regras e conflitos de identidade dessas criaturas, a partir da experiência pessoal da protagonista.

Os lobisomens com os quais Elena interage possuem força física e habilidades impressionantes: são capazes de matar um homem com apenas um golpe e podem perceber a presença de um intruso pelo olfato mesmo a quilômetros de distância. Elena, que no Bando tinha a função de controlar os "desgarrados", a fim de impedi-los de ameaçar a segurança dos demais, é convocada por Jeremy, o alfa do grupo, um ano depois de tentar viver entre os humanos. Ele precisa da ajuda dela para entender os mais recentes acontecimentos misteriosos em Stonehaven, a propriedade isolada nos arredores de Nova York e sede do Bando, que podem colocá-los numa situação de perigo. O apelo fará com que a protagonista enfrente não apenas o atentado às normas, mas também sua própria decisão de identidade, pois Elena, mulher inteligente e segura de si, decidiu há alguns anos atrás viver como humana, o que implicou na tentativa de sufocar seus instintos animais. Vive em Toronto, no Canadá, trabalha como jornalista e namora o arquiteto Philip, com quem divide o apartamento e do qual tenta esconder seu segredo, mesmo que isto implique em um estranho hábito de sumir uma vez por semana, na madrugada, para "correr", o que no código lobisomem significa completar uma metamorfose e matar algum animal.

Como o leitor do blog pode perceber, o livro possui um enredo de grande potencial à primeira vista, mas, no entanto, o mesmo não me agradou conforme eu ia avançando em suas páginas, talvez pelo fato da heroína, aparentemente segura de si, demonstrar ser, no fundo, uma mulher submissa, emocionalmente instável e insegura, mudando toda hora as suas vontades e suas opiniões, em especial a respeito de sua relação afetiva com Clay, que achei um grandíssimo chato de galochas que fica fazendo o tempo todo a linha rebelde sem causa.

A trama, portanto, é morna e sem maiores surpresas, lembrando muito os filmes policiais que vemos exaustivamente na TV porque basicamente este “Fome de Loba” enfoca um confronto entre duas gangues rivais, uma de “lobisomens bonzinhos” e outra de lobisomens malvados.

E é isto. Apesar de elementos criativos bem promissores, a história no fundo é fraca e banal, do tipo esquecível após a leitura. Portanto, se você quiser correr o risco de lê-la, fica então um último conselho: empreste-a de alguém, pois um possível investimento financeiro em um livro como este não vale tanto a pena assim. Relato isto de experiência.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Hábito de leitura e gosto por livros



Nem sempre o hábito de ler e o gosto por livros caminham juntos.  Assim sendo, precisamos diferenciar o hábito da leitura do hábito de consumir livros.  A leitura é um ato do intelecto e, se bem desenvolvida, pode tornar-se uma fruição estética e espiritual.

Volta e meia são publicadas pesquisas falando dos hábitos de leitura do brasileiro. São pesquisas que denunciam os baixos índices de alfabetismo, as dificuldades econômicas de acesso aos livros ou a pouca cultura livresca do país. Mas tais informações nem é preciso ser brasileiro para conhecer: elas não chegam a surpreender e evidenciam o que muitos já sabem há muito tempo.

De fato, o cidadão brasileiro carece de tempo, dinheiro e interesse para ler, e tais carências muito prejudicam a formação, manutenção e incremento do hábito de leitura no Brasil. Entre os jovens, geralmente, há pouca disposição para freqüentar livrarias e consumir livros, e a média de livros lidos mensalmente entre leitores jovens e adultos é bem pequena, se comparada à de outros países.

A estas informações (que soam alarmantes para muita gente), somem-se todas as decantadas pesquisas, previsões, sondagens e especulações sobre o futuro do livro e seu provável fim enquanto objeto de leitura, e então temos perspectivas ainda mais sombrias. Diante de tal cenário, não é à toa que a Câmara Brasileira do Livro está implantando uma política para a promoção do livro nacional, a fim de estimular o gosto de ler entre os jovens e, conseqüentemente, o consumo de livros.

Números tristes ou interessantes à parte, acho que se faz necessário dissociarmos o hábito da leitura do hábito de ler livros, começando por diferenciar uma coisa da outra. Leitura é algo muito mais abrangente do que ler livros, vai além do simples ato de fazer varredura visual de letras sobre folhas de papel.

A leitura, enquanto processo humano em constante evolução, é atitude complexa. Requer uma pré-disposição específica para a compreensão do mundo que nos cerca. Ultrapassa a mera apreensão do significado literal de palavras, estando ligada ao desenvolvimento de uma postura pensante ativa, humanística e integralizante. Em poucas palavras, ler é educar-se.


Para cada pessoa, um tipo de leitura

A leitura é um ato do intelecto e, se bem desenvolvida, pode transformar-se em fruição estética e espiritual. Quem tem o hábito freqüente de ler não faz diferença quanto ao objeto de leitura. Tanto faz se é livro, bula de remédio, panfleto entregue pela janela do carro nos semáforos urbanos, revista de variedades na sala de espera do consultório médico, apostila técnica, site na internet ou e-mails no palmtop.

Quem tem por hábito ler não se importa se chove ou faz sol, se está escuro ou claro, se está na biblioteca, no banheiro ou no metrô. Não se importa se o texto está em papel ou na tela, se o que lê é livro ou computador. Quem se interessa por ler lê tudo o que lhe cai nas mãos - e isto não é apenas "chavão demodé", mas fato facilmente observável. Quem gosta de ler lê tudo e lê sempre, em qualquer circunstância, desde que sinta necessidade e/ou prazer para tanto.

Já o amor pelos livros é outra história. Há, sem dúvida, os aficcionados do texto de papel, que estremecem de emoção ao sentir o cheiro de livro novo, recém-saído da gráfica. Ou a emoção paradoxal de cheiro de livro velho, curtido em sebos de qualidade, esperando o folhear leve, típico do slow food... Roçar os dedos por folhas de papel de boa qualidade, ouvindo o estalar de páginas virgens de um livro ainda não lido, é um prazer estético. Gostar de livros é experiência sensorial - tátil, visual, auditiva, olfativa. Amar livros é uma experiência sinestésica quase sexual, tão relacionada que está aos sentidos e ao prazer extraído através deles.

Também não podemos nos esquecer daqueles que adoram tanto os livros que quase chegam a enquadrá-los, colocando-os como objetos de puro adorno em estantes, colecionando-os a metro. São pessoas que se extasiam com os livros enquanto objetos estéticos, extáticos, materiais, fetichistas até, independentemente de seu teor. Mas que, no entanto, não se interessam pelo seu conteúdo potencialmente dinâmico.

Por outro lado, conheço pessoas que lêem vários livros técnicos e de cunho estritamente profissional, impressos no velho e bom papel, que facilmente engrossariam a estatística de leitores e, no entanto, não lêem mais nada além disso. Até se irritam ao ouvir falar em livros fora do expediente ou dos bancos escolares. Aí eu me pergunto: será que podemos considerar essas pessoas efetivamente "leitoras"? Será que elas gostam mesmo de ler, têm a leitura como modo de vida, no sentido mais amplo? Ou seriam apenas leitores funcionais (fazendo-se uma analogia com os analfabetos funcionais), que até lêem, mas não estão acostumados a ler, a não ser quando absolutamente necessário?


Ler é educar-se

Eu, sem dúvida, estou incluída no rol dos que amam os livros e o texto impresso. Sou uma colecionadora de papéis de mão cheia e também adoro navegar sem pressa pelas estantes de livros, sejam elas de livrarias da moda ou estantes empoeiradas de sebos repletos de relíquias ou esquecimentos. Reverencio tanto as novas edições (ainda mais se são caprichadas edições de arte) quanto os livros antigos, que armazenam ácaros de segredo e saudade.

Confirmando o clichê, leio tudo o que me cai na mão. Todas as paixões legíveis me divertem. Entretanto, para mim há claramente uma distinção entre o ler, enquanto modus vivendi, e o gostar de livros, enquanto fixação amorosa ou hobby. Amar livros não é necessariamente amar a leitura; mas amar a leitura é, conseqüentemente, amar (também) os livros.

Falo por experiência própria. Sou uma leitora compulsiva, às vezes obsessiva, e o que me interessa sempre é o texto - não importa como ele venha. O que eu quero é o conteúdo, a mensagem. O suporte, a forma como ele é formatado ou embalsamado, é apenas um detalhe, uma questão transitória.

Insisto como importante esta distinção entre o hábito da leitura e o consumo de livros pois vejo como absolutamente necessário nos adaptarmos aos novos tempos e às novas tecnologias. Ao longo de toda a história do homem, antes e depois da criação da escrita, é assim que temos evoluído socialmente - engendrando novas formas de leitura e aprendizado através das tecnologias que fabricamos. E é assim que, desde os primórdios da comunicação humana, acostumamo-nos a ler e interpretar sinais de fumaça, toques de tambores, cantos de guerra, máscaras, pinturas corporais, tatuagens, papiros, pergaminhos, códices feitos do couro de ovelhas jovens, iluminuras medievais até chegarmos aos livros impressos pós-Gutemberg.

Da mesma forma, devemos hoje estar preparados para ler tanto livros de bolso e edições de arte & luxo quanto histórias em quadrinhos, revistas, jornais, outdoors, neons, painéis eletrônicos urbanos, grafites, programações televisivas, canções e trilhas sonoras, música ambiente, filmes, anúncios publicitários, telas de máquinas de raios catódicos ou de cristal líquido, telefones celulares ou quaisquer outros dispositivos híbridos móveis de comunicação telemática, e tudo o mais que apresentar algum conteúdo informativo a ser transmitido, não importa em qual formato ou suporte tecnológico ele se mostre.

Enquanto não diferenciarmos o hábito da leitura (enquanto estilo e paradigma de vida) do hábito de ler livros de papel; enquanto continuarmos insistindo em considerar leitores só aqueles que lêem "x livros/ano", numa abordagem meramente formal e quantitativa, continuaremos a assistir ao definhamento das estatísticas oficiais que indicam quantos são os reais leitores existentes.

Pois, se continuarmos nos portando desta forma míope, continuaremos a tapar o sol com as mãos diante do fato de que o universo da leitura é muito mais complexo e abrangente do que o universo letrado dos livros, e não seremos nós mesmos leitores-intérpretes honestos da realidade.
Enquanto não encararmos o fato de que hoje, parodiando o escritor brasileiro Monteiro Lobato, uma nação se faz de homens e leitura, não importa qual seja a fonte da leitura, não cumpriremos a missão cidadã de orientar as novas gerações de leitores que estão surgindo, pois estaremos negando um futuro prescrito que já se faz presente.


Para saber mais

Câmara Brasileira do Livro: http://www.cbl.org.br

Associação Brasileira de Editores de Livros - ABRELIVROS: http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/

Amigos do Livro: http://www.amigosdolivro.com.br

Sobre Monteiro Lobato: http://www1.uol.com.br/folha/almanaque/monteirolobato.htm


Texto de autoria de Rosy Feros para o Site Recanto das Letras

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Resenha: Drácula


O mestre de todos os vampiros

Esqueça Edward Cullen, Stefan Salvatore, Bill Compton ou outro qualquer vampiro bonzinho com quem você tenha tido contato no mundo literário recentemente. Visite agora uma biblioteca próxima de sua casa ou então procure em uma livraria o bom e velho Drácula, de Bram Stoker.


Publicado em 1897, Drácula recebeu uma acolhida pouco unânime entre a crítica da época, onde muitos elogiaram a obra como uma poderosa peça de fascinação lúgubre e outros a criticaram pela sua estranheza. O tema do vampiro, que parecia já estar desgastado e caindo no ridículo ou no esquecimento naquela época, tomou um impulso tão forte e firme, que até hoje em dia muitas pessoas pensam que o autor foi o primeiro a introduzi-lo na literatura.


Bram Stoker, que era irlandês, começou a escrever sua obra-prima em 1890 e, segundo o próprio, sua inspiração partiu de um pesadelo onde ele via um vampiro erguendo-se de sua tumba. Então, a partir deste seu episódio onírico, começou a pesquisar com avidez lendas da região da Transilvânia, na Romênia, e sua inspiração final surgiu particularmente relacionada a um certo nobre que viveu naquela região, no século XV, chamado Vlad Tepes, que foi  responsável em impedir a invasão do povo turco na Europa e que era conhecido como “O Empalador”, pois costumava empalar (perfurar com madeira pontuda, geralmente lanças) os inimigos que eram capturados em combate. E o nome Drácula, inclusive, foi tirado do pai de Vlad, chamado Vlad Dracul (cujo último termo significa diabo ou dragão).


Possuidor da força de vinte homens reunidos, capaz de comandar os mortos, os animais e o clima, dotado do poder de tomar inúmeras formas e ficar invisível, o Drácula de Bram Stoker é um ser extremamente inteligente e ardiloso, conseguindo ludibriar com sucesso os seus desafetos por mais que estes reúnam todos os recursos da modernidade da época para combatê-lo, alguns como transfusões de sangue, a taquigrafia e até estudos avançados de Psiquiatria para entender a sua mente. 


Ao contrário dos vampiros “românticos”, ele não mata por fúria, prazer ou capricho, mas movido por uma imensa avidez de poder, apoderando-se, portanto, de suas vítimas e colocando-as a seu serviço. Age também como um grande estrategista, reunindo em sua jornada macabra vastas fortunas que o ajudarão a realizar um possível plano de domínio mundial, e  no livro isto, está praticamente explícito, pois o propósito inicial de Drácula é dominar uma Londres onde o british way of life está em franca decadência. E, para se ter uma idéia desta decadência, as pacatas mulheres vitorianas que são mordidas por ele e que se metamorfoseiam em vampiresas, se tornam de uma hora para outra, vorazes dominadoras que fazem uso de uma sensualidade quase primitiva para abordarem com sucesso as suas vítimas em busca de alimento.


Ainda que este livro não tenha a linguagem fácil de entender das obras de Stephenie Meyer tampouco o estilo sombrio e sensual da Anne Rice ou o mais leve de Charlaine Harris, a sua narrativa é bastante original, pois Stoker escreveu a obra como se pensasse em uma peça de teatro, desprezando assim a exclusividade de um foco narrativo em primeira ou terceira pessoa, tão comuns em vários livros, utilizando assim os relatos de vários personagens e até de instituições presentes na obra, sejam estes em formato de cartas, relatórios, telegramas e até mesmo notícias de jornais, dando originalidade à obra.


Portanto, a misteriosa vida do Conde, é principalmente narrada através dos diários e cartas escritos por Jonathan Harker (rapaz contratado pelo vampiro para representá-lo no mundo exterior), Mina Murray (que depois se torna Mina Harker ao se casar com Jonathan) e do Dr. Seward, amigo pessoal do Dr. Van Helsing (o inimigo mais interessado em destruir Drácula e seu legado), que administra uma instituição para doentes mentais em Londres.

O Dr. Seward, em particular, e tudo o que se relaciona a seu mundo de enfermos dá um toque especial à obra, na minha opinião, dotando-a ainda mais de situações e conflitos que mexem bastante com o psicológico daqueles que a lêem. 


E esta, é basicamente dividida em três grandes atos: Jonathan Harker aprisionado no castelo de Drácula, a luta de amigos e parentes para salvar a vida de Lucy Western (melhor amiga de Mina) e a caçada ao vampiro, liderada pelo astucioso Dr. Van Helsing.

A narrativa poderá parecer um tanto lenta. A demora em acontecer fatos importantes e a quase ausência de seqüências de ação podem irritar um pouco o leitor. Mas se este tiver paciência e principalmente sangue frio durante a leitura, acabará usufruindo de um livro excelente onde o suspense e uma atmosfera psicológica envolvente ultrapassam as barreiras. 

Dica

Aos que já leram a obra, uma dica final: procurem nas livrarias um livro chamado "Os 13 melhores contos de Vampiros" organizado por Flávio Moreira da Costa. Entre estes contos, encontra-se um capítulo inédito de Drácula, que acabou não entrando na edição original e permaneceu inédito por um bom tempo. Nele, Jonathan Harker, a caminho do Castelo do conde, é atacado por lobos assustadores bem nas proximidades de um cemitério muito sinistro. 


Fonte pesquisada para a criação desta resenha: Wikipédia.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Conhecendo Dr. Guto


Leste do Rio



Vejo o Rio verde limão, azul turquesa, goiabeira, a jaca da bicicleta. Micos que descem da mata e vêm comer banana na mão, e mordem seu dedo, barulho de riacho que corre e vira pedra. Sou eu, caminhando, caminhando, que falo a vocês parados no céu: desce daí sacolé, paçoca de amendoín! Sorvete de abacate de trem vem ser feliz, ouça os bobos não, que martelam as cruzes na areia. Areia já levou as tristezas pra Yemanjá, que volta na garrafa de sidra. É, sei que é sidra pelo rótulo, mas podia ser pindorama, batida de umbu ou água do mar. Rolou e a praia virou noite. Que medo de praia. Índio de fora não tem sua Iracema ou brucutu, se for índio no fim da fila...

Barbie, baitola, isso tem no Rio? E o jacaré vem comer os bago deles? Xô caipora feia – violência. Deixa elas namorar, deixa o pastor orar e mendigo mendigar. Sua inimiga aqui é alegria! O bafo do churrasco, os bêbedos da Lapa. Carioca é a Prainha, a maconha na Maré, o Solar da Imperatriz! Hoje ela é senhora de anágua, que censura tudo que censurar. Quer Pan não, quer fumando na escada não, abaixa o som! Vai chamar a polícia! Uuuuuuuuu, pan, pan, pan, cadê o mastercard? Chama Lula, tira do mar, faz alguma coisa cabeça de camarão!!! Tu também é culpado sr. promotor,  preguiçou, ganha vinte mil por mês! O camelô vinte tostão... Grafittei errado excelência: tu dormiu na arquibancada paulista trouxa! Ah, nem turista branquelo tu é, veio de busão São Geraldo, cheio de gaiola, vencer no Maracanã.

O Janeiro é tolerante, redentor, calçadão bordado, pagode com Jazz encima da laje, zona norte, zona sul, e a oeste mata. Gente que chega no tom do avião: ser feliz e nem acordar, porque sono aqui ninguém quer, só ser marimbá! Índio pescador e pescar gente bonita, forasteira, ruiva de shoppings, uma mulata de silicone! Oh negão, qual o problema? Vejo o Rio verde limão, pedalando, sambista e pouco leitor, mas um dia a gente ainda estuda e aprende a pescar manjuba! Moro no mar, no leste do Rio, pra lá dos canhões... Pelas ondas até o Costa brava posso afirmar: o Rio mesmo é a rádio Roquete Pinto!  Beijo em todos.


Dr. Guto é um novo escritor que dá banana aos macacos e veneno a quem precisa de veneno... na definição do próprio.

Pacato advogado da cidade do Rio de Janeiro, pode ser encontrado através de duas formas no vasto mundo virtual: pelo twitter (twitter.com/drgutorj) e no site abaixo, onde o leitor interessado pode fazer o download de seu primeiro livro de crônicas, no formato e-book, cuja capa ilustra esse post.


Não deixe de conhecê-lo e de conhecer suas obras. É amigo e super gente boa. 

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Resenha: Veronika decide morrer



O melhor de Paulo Coelho, sem dúvida

Quando o assunto é literatura de qualidade, o brasileiro Paulo Coelho é sempre objeto de controvérsias envolvendo inúmeros leitores, que acabam se dividindo em dois lados distintos: de um deles, os que se classificam como sérios e fãs da literatura de excelência; do outro, aqueles que são fãs declarados do autor, que o defendem com unhas e dentes.

Não me encaixo em nenhumas das categorias citadas. Antes de ler “Veronika”, meus únicos contatos com as obras de Paulo foram dois de seus livros, “O Diário de Um Mago”, que abandonei sem o menor remorso e “Maktub”, que li até o final e que achei razoável e pouco inovador, por se tratar apenas de uma pequena coletânea de histórias tradicionais de outras culturas com as quais ele deve ter travado contato, todas elas com um fundo moral, filosófico ou religioso, e que recontou com suas palavras.

Mas voltando à controvérsia, é super comum eu ler por aí, principalmente em comunidades de literatura de redes de relacionamento social da internet, algumas acusações como “Paulo é medíocre” ou “Paulo não sabe escrever” e argumentações como “Paulo é um perseguido pelos elitistas por pensar diferente” ou “Paulo é invejado”.

Afinal de contas, Paulo possui ou não possui méritos?

Não me aprofundarei na questão porque não sou conhecedor da totalidade de suas obras e uma das piores coisas que um crítico ou resenhista pode fazer é classificar um livro como ruim sem tê-lo lido. E se me fosse feita essa pergunta, a minha resposta seria “sim, ele tem méritos”. Além de saber promover bem seus livros, o livro que resolvi resenhar hoje, “Veronika decide morrer”, excede expectativas.

Nas mesmíssimas comunidades que citei, esse livro era quase que uma unanimidade entre os fãs, os neutros como eu e alguns dos críticos e isso aguçou a minha curiosidade. Decidi adquiri-lo e tirar então as minhas próprias conclusões.

As questões que norteiam o livro são basicamente três: a morte, a loucura e a fé (em si). Trata-se da história de uma jovem bibliotecária eslovena chamada Veronika, aparentemente sã, controlada e que demonstra saber viver em um mundo normal, previsível e controlado por normas sociais. Porém, sentindo-se incapaz de lidar com estas convenções, tem uma espécie de crise existencial e decide morrer por meio de suicídio, ingerindo então substâncias prejudiciais ao seu organismo.

O suicídio é malsucedido. Preocupados com possíveis reações adversas que possam vir de Veronika, seus pais a internam em um hospício para receber tratamento. E nesse ponto da resenha, faço um parênteses para explicar algo muito importante: Veronika na verdade é um alter ego feminino de Paulo. Quem conhece a sua história de vida pessoal, sabe que ele passou inúmeras vezes por instituições psiquiátricas quando era mais jovem e pouco ajustado às exigências de próprios seus pais. E, nestes lugares, recebeu tratamentos nem um pouco éticos e recomendados às pessoas, que neste livro, são retratados em riquezas de detalhes.

Voltando à história, o suicídio não surte o efeito desejado e imediato em Veronika, mas tem uma conseqüência grave: o coração dela sofre um dano irreparável e agora sua morte é certa e eminente, podendo ocorrer em até uma semana. E é nesse ínterim que Veronika resolve reavaliar mais a fundo sua vida e suas escolhas, ainda mais travando contato estreito com outros pacientes da instituição e tomando conhecimento de suas vidas, algumas muito mais  sofridas que a dela.

Religião, psicanálise e senso comum são temas altamente discutidos enquanto Veronika permanece encerrada nesta instituição e agora, temendo a própria morte. O que é a loucura? O que é a realidade? E por que, apesar da lei natural dizer que temos que lutar pela vida, existem aqueles que insistem em morrer? 

Abandonando desta vez as suas vertentes místicas, Paulo escreveu um livro delicado que nos faz pensar. Não apenas na vida da protagonista e de seus coadjuvantes, mas um pouco em nós mesmos. O simples fato de nos colocarmos no lugar destas pessoas já nos provoca a dúvida: estamos ou não aproveitando a vida como gostaríamos?  Somos felizes, afinal?

Portanto, vença os preconceitos que você possa vir a ter em relação às obras de Paulo e procure conhecer a história deste livro em particular. Acredito que ele possua algo que lhe será proveitoso e que só poderá ser compreendido em sua totalidade se você resolver lê-lo mesmo, pra valer. 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Trecho selecionado (VI)


"Tinha sido assim meus dias. Sou mais feliz que 97,6% da humanidade, nas contas do professor Schianberg. Faço parte de uma ínfima minoria integrada por monges trapistas, alguns matemáticos, noviças abobadas e uns poucos artistas, gente conservada na calda da mansidão à custa de poesia ou barbitúricos. Um clube de dementes de categorias variadas, malucos de diversos calibres. Gente esquisita, que vive alheia nas frestas da realidade. Só assim conseguem entregar-se por inteiro àquilo que consagraram como objeto de culto e devoção. Para viver num estado de excitação constante, confinados num território particular, incandescente, vetado aos demais. Uma reserva de sonho contra tudo que não é doce, sutil ou sereno. É o mais próximo da felicidade que podemos experimentar, sustenta Schianberg.
Não sei que nome você daria a isso.
Bem, não importa muito, chame do que quiser.
Eu chamo de amor."


[Marçal Aquino]


Trecho do livro Eu receberia as piores notícias dos seus mais lindos lábios escolhido especialmente pela minha amiga de São Paulo (SP), Elizete Costa. Obrigado pela sua participação aqui, Eliz!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Resenha: A bolsa amarela


A obra-prima de uma escritora extraordinária

A gaúcha Lygia Bojunga é figurinha carimbada em todas as bibliotecas públicas do Brasil. Lembro com gosto de minhas idas à biblioteca escolar durante a infância. Lá, eu sempre via as suas obras com grande destaque nas prateleiras.

Pudera: esses livros, como descobri ao lê-los, faziam por merecer.

E nessa época gostosa da vida, li dois de seus livros: Os colegas e A Casa da Madrinha, sendo este segundo um dos livros infantis que mais me fascinaram. E o fascínio foi tanto que até hoje em dia o recomendo a amigos, mesmo que estes já sejam adultos feitos, e aos seus filhos também.

Mas, voltando à Lygia, seus livros são encantadores e intensos. Têm a capacidade de ultrapassar as barreiras da infância e encantar também as pessoas adultas, caso estas parem um pouco as suas atribuladas vidas, e resolvam esquecer por um momento os seus problemas, proponham a si a leitura dos escritos da autora. Em resumo, os livros desta ex-atriz, dramaturga, tradutora e ganhadora do principal prêmio de literatura infantil mundial (o Hans Christian Andersen, em 1982), foram feitos para a apreciação de toda a família.

“A bolsa amarela” é considerada sua obra-prima. E voltando aos tempos de biblioteca na minha infância, constatei que este livro possuía alta rotatividade de empréstimos entre os alunos da minha escola. Por conta disso, ele jamais chegou às minhas mãos, por mais curiosidade que eu tivesse a seu respeito. É por isso que somente agora, depois de adulto, é que tive a oportunidade de tê-lo em mãos e assim saber mais um pouco sobre seu teor e talvez os fatores que justificam os seus êxitos.

O livro é sobre uma menina chamada Raquel e sobre seu grande sonho: tornar-se uma escritora. Seria um alter ego infantil da autora? Penso que sim. E talvez seja até uma forma de chamar a atenção das crianças para esta profissão, pouco difundida entre as escolhas vocacionais dos mais jovens.

Mas voltando ao livro, Raquel é a caçula de quatro irmãos e todos bem mais velhos do que ela, que a ignoram por completo por ser criança. E como se isso não fosse o bastante, a menina foi fruto de uma gravidez não-esperada pelos pais, que a criam com uma certa má-vontade, sempre sendo um pouco mais exigentes com ela.

Por conta disso, Raquel vive em um mundo à parte e possui uma visão muito crítica e aguçada de sua vida como criança, tendo também uma imaginação muito fértil que a leva a criar alguns amigos imaginários que se originam nos textos que ela escreve de próprio punho, tais como o menino André, a menina Lorelai, os galos falantes Afonso e Terrível, o Alfinete de Fralda de Bebê e a Guarda-chuva .

Por causa desses estranhos amigos, Raquel quase sempre está se metendo em encrencas, principalmente com a sua intolerante família incapaz de compreender seu mundinho particular. E, por isso, cercados por adultos chatos de todos os lados (e todos grandessíssimos bisbilhoteiros que não podem descobrir de forma alguma a associação deles com Raquel,) os amigos buscam refúgio seguro, perfeito e secreto em um lugar inusitado, onde ficam livres da curiosidade alheia. Trata-se de uma enorme bolsa amarela que Raquel ganhou de presente de sua tia rica, chamada Brunilda.

Ficou curioso(a) com Raquel e seus amigos? Para saber como a história termina e como cada personagem encontra um rumo na vida, aconselho a leitura deste livro com entusiasmo. Se você é criança, absorva bem os ensinamentos que a autora lhe passa durante a história. E se é adulto, permita-se mais uma vez ser criança e aprender também estas lições, aplicando-as à sua vida atual, especialmente na forma como você lida com os pequenos e também se divertindo com a história, que é excelente e bem-humorada.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Poesia (III)


Batizada originalmente com o pomposo nome de Flor Bela de Alma da Conceição, Florbela Espanca (1894 - 1930) foi uma poetisa portuguesa ímpar, nascida em uma pequena vila do Alentejo. Durante trinta e seis anos, sua vida foi tumultuada, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotismo e feminilidade. 

Hoje compartilho com os leitores do blog uma poesia de Florbela, especialmente  escolhida  pela minha amiga Nathália Paccola, de Indaiatuba, SP. Trata-se de "A mensageira das violetas", que pode ser encontrada em uma antologia homônima, publicada recentemente pela editora Martin Claret.


A mensageira das violetas


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui…além…
Mais este e aquele, o outro e toda a gente….
Amar!Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar…


Apreciaram tão delicada poética? Procurem então pelas obras de Florbela nas melhores livrarias. Até a próxima!
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