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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Poesia (XIV)

Quando o amor vacila

Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.
Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.
Amo teu jogo triste.
As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.
Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.
Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.
Amo teu sistema de vida e morte.
Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.
Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila.

[Poema recitado por Maria Bethânia no show 
Maricotinha, de 2003, cuja
 autoria é desconhecida].

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Trecho selecionado (XIII)


Um homem dirigiu-se a um santo, tendo nas mãos uma criança recém-nascida. “Que devo fazer com esta criança?”, perguntou ele, “ela é miserável, deformada e não tem vida bastante para morrer”. “Mate-a”, gritou o santo com voz terrível, “mate-a e segure-a nos braços por três dias e três noites, a fim de criar em si mesmo uma lembrança: – desse modo você não gerará novamente um filho quando não for tempo de fazê-lo”.” – Ouvindo isso, o homem partiu decepcionado; e muitos censuraram o santo por haver aconselhado uma crueldade, pois aconselhara matar a criança. “Mas não é mais cruel deixá-la viver?”, exclamou o santo.
[Trecho de A Gaia Ciência, de Friedrich Nietzsche]

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vamos ajudar?


Entre as cidades serranas vitimadas pelas cheias no começo do ano no Estado do Rio de Janeiro, está a pacata São José do Vale do Rio Preto.

Em comparação a Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, seus danos foram mínimos. Mas como em toda tragédia, houve algumas perdas inestimáveis aos moradores desta pacata cidade. Uma delas foi sua biblioteca municipal, que perdeu completamente todo seu acervo.

Livros, enciclopédias, computadores, nada restou. E por conta disso, convoco os leitores do blog, especialmente aqueles que puderem ajudar, a tentar inverter a situação e trazer o local novamente à vida.

Então, mande um ou mais livros para nossos irmãos de São José do Vale do Rio Preto. Você não só ajudará a levar cultura a todos como também estará fazendo a sua parte como cidadão. E para ajudar é bastante fácil. É só enviar o(s) livro(s) para o seguinte endereço:


Biblioteca Municipal Nancy de Castro Esteves
Rua Coronel Francisco Limongi, s/nº – Centro
São José do Vale do Rio Preto – RJ
CEP 25780-000



Aos que moram em São José do Vale do Rio Preto e cidades próximas basta levar suas doações até a  Secretaria de Educação ou procurar pelo espaço onde está funcionando provisoriamente a biblioteca (local onde funcionava o salão de cabelereiros Estúdio A, que era de propriedade do jovem Alessandro).


Divulguem, repassem a informação e principalmente ajudem as pessoas, os jovens e as crianças dessa cidade. Pense que poderia ser você ou algum conhecido seu na mesma situação.

Grato a todos pela atenção!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Leitura e saúde - Conclusão


Confirmado: Ler no banheiro faz mal à saúde


É comum ouvir conselhos de que a leitura no banheiro ajuda a relaxar. Na verdade, a posição sentada, enquanto se aguarda o momento da evacuação, não é adequada, pois contribui com o surgimento de hemorróidas. O médico Renato A. Bonardi, chefe da Unidade de Coloproctologia do serviço de cirurgia geral do Hospital de Clínicas de Curitiba e professor adjunto do Departamento de Cirurgia da PUCPR e da UFPR, alerta para que "se evite o hábito de leitura no banheiro, pois pode desencadear a formação de hemorróidas pelo aumento de pressão sobre os vasos hemorroidários." A presença delas com ou sem acompanhamento de sangue faz parte do conjunto de afecções anorretais que estiveram presentes na história da humanidade. Os hábitos da vida moderna contribuem com o aumento de sua importância. Calcula-se atualmente que mais da metade da população a partir dos 30 anos tem hemorróidas.
Retrospectiva. De acordo com Quilici e Reis Neto (2000), em 2750 a.C. a medicina egípcia se mostrava adiantada e utilizava narcóticos para a sedação cirúrgica. Especialistas já atuavam em diversas áreas. Dentre os especialistas de doenças anais, um era médico pessoal do Faraó e tinha o título de O guardião do ânus do Faraó. A história escrita da medicina egípcia começou em 3000 a.C., conforme os papiros antigos que copiavam ensinamentos contendo fórmulas médico-místicas de anotações mais remotas. Na Índia, nos livros sagrados do budismo, está registrado o nome do médico Jivaka, lembrado pelas operações que realizava e pelas menções ao tratamento de hemorróidas. Na Grécia, Hipócrates descreve o tratamento das dilatações de veias anais por meio de sangria no braço para conter o fluxo hemorrágico.
Mas foi na primeira escola de medicina conhecida no mundo, a da cidade de Alexandria ao norte do Egito, que surgiu, no século IV a.C., o manuscrito apresentado por Paulus Aegineta (502-575), conhecido como Aécio de Constantinopla, que descreve uma técnica operatória para doença hemorroidária completa. Na Idade Média, entre os anos 1000 e 1400, o nome de homorróidas se tornou deselegante e passou a se chamar mal de São Fiacro. No século XVI, as hemorróidas com hemorragias passaram a ter a indicação absoluta de cirurgia devido à anemia que acarretavam. Nos séculos XVII e XVIII foi difundido o uso de laxativos para o tratamento de fístulas anais.
Hemorróidas já acometeram grandes figuras da humanidade como Tibério, o imperador romano e o educador Lutero. Os estudos sobre a doença hemorroidária realizados pelo patologista e anatomista Giovanni Batista Morgagni (1682-1771) indicam que elas não existem em animais e relacionam a sua etiologia à posição vertical do homem associada à ausência de válvulas venosas na circulação retal e à predisposição hereditária. No século XIX começou o avanço da medicina moderna. O pioneiro da proctologia brasileira, em 1914, foi o pernambucano Raul Pitanga Santos, que clinicava no Rio de Janeiro.
Prevenção. Existem meios para a prevenção. O médico proctologista, Renato A. Bonardi, comenta que "as lesões anais são interpretadas pela população como hemorróidas, mas nem sempre representam hemorróidas. Quando se tem um sintoma, principalmente o sangramento, ele deve ser sistematicamente avaliado, porque lesões graves como o câncer do reto surgem primeiramente com uma lesão, ou seja, as lesões precursoras do câncer colo-retal podem se manifestar com sangramento. Além do sangramento, outros sintomas são comuns. Por exemplo, a presença de muco ou catarro nas fezes, a presença de secreção purulenta como fístulas, a sensação de evacuação incompleta ou a necessidade imperiosa de evacuar repetidamente. Fatores predisponentes e desencadeantes de hemorróidas ocorrem no período gestacional, por esforço e aumento de pressão, como resultado de fatores anatômicos, e na posição sentada por tempo prolongado no vaso sanitário."
O paciente V. D. A., empresário que fez tratamento para se livrar de hemorróidas, acha que ficar muito tempo sentado diante de um computador poderia provocar o aparecimento dessas dilatações de veias anais, mas para o dr. Bonardi isso não é real. O que as provoca é a posição sentada no vaso sanitário, pois é como se um funil estivesse dentro de outro funil, facilitando seu aparecimento.
Dentre os cuidados higieno-dietéticos, o professor Bonardi destaca: a alimentação com fibras; a ingestão adequada de líquidos; a prática da não-leitura no banheiro no processo de evacuação; o uso adequado de papel higiênico que, se for de qualidade inferior, deve ser umedecido para não causar lesão à pele. Os lenços umedecidos são aconselhados no período de cicatrização de lesões cutâneas, mas podem ser utilizados diariamente. O papel higiênico industrializado colorido é mais agressivo à pele. O médico proctologista finaliza com a recomendação considerada o mais importante cuidado preventivo: todo e qualquer sangramento deve ser sistematicamente avaliado ou todo indivíduo que tem um sintoma deve procurar os profissionais da medicina.

Texto publicado no site Paraná Online, de autoria da jornalista Zélia Maria Bonamigo, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail:zeliabonamigo@uol.com.br

sábado, 23 de abril de 2011

Dia Internacional do Livro



Dia Internacional do Livro teve a sua origem na Catalunha, uma região semi-autônoma da Espanha.
A data começou a ser celebrada em 7 de outubro de 1926, em comemoração ao nascimento de Miguel de Cervantes, escritor espanhol. O escritor e editor valenciano, estabelecido em Barcelona, Vicent Clavel Andrés, propôs este dia para a Câmara Oficial do Livro de Barcelona.
Em 6 de fevereiro de 1926, o governo espanhol, presidido por Miguel Primo de Rivera, aceitou a data e o rei Alfonso XIII assinou o decreto real que instituiu a Festa do Livro Espanhol.
No ano de 1930, a data comemorativa foi trasladada para 23 de abril, dia do falecimento de Cervantes.
Mais tarde, em 1996, a UNESCO instituiu  23 de abril como o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, em virtude de 23 de abril se assinalar o falecimento de outros escritores, como Josep Pla, escritor catalão, e William Shakespeare, dramaturgo britânico.
No caso de Shakespeare, tal data não é precisa, pois que na Inglaterra, naquele tempo, ainda utilizava-se o calendário juliano, pelo que havia uma diferença de 10 dias para o calendário gregoriano, usado na Espanha. Portanto, Shakespeare faleceu efetivamente 10 dias depois de Cervantes.

Fonte consultada: Wikipédia.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Resenha: 13 dos Melhores Contos de Vampiros


Indispensável para fãs de vampiros

Flávio Moreira da Costa reuniu em uma antologia 13 contos vampirescos que supostamente deveriam representar o que há de melhor dentro deste popular gênero de ficção narrativa, já que, desde tempos imemoriais, vampiros são assunto na literatura e nas rodas de conversas das mais diversas culturas e povos, especialmente os europeus.

Entretanto, apesar de ter gostado muito de alguns contos da obra, não há como qualificar todos eles como os melhores. Neste livro o autor resgata textos escritos em épocas e culturas diversas, frutos de movimentos culturais aparentemente sem ligação, constituindo assim uma salada de múltiplos sabores para os mais diversos paladares. O diferencial é que uma grande parte destes contos jamais havia sido publicada no Brasil, sem falar em alguns de seus autores, famosos lá fora, mas completamente desconhecidos em território nacional, como o irlandês Sheridan Le Fannu.

Por conta disso, muitos dos vampiros desta coletânea apresentam algo inédito, diferente. Destaco com louvor as criaturas que aparecem nos contos "O estranho misterioso" (de autor anônimo), "Carmilla" (do já citado Le Fannu), "Luella Miller" (Mary Eleanor Wilkins-Freeman), "A transferência" (Algernon Blackwood - guarde bem esse nome), "O quarto da torre" (Edward Frederic Benson), e "A história de Chugoro" (de Lafcadio Hearn, que possui lançada no mercado brasileiro uma boa coletânea de contos de horror japoneses chamada Kwaidan - Assombrações).

Entretanto, as maiores pérolas do livro são "O hóspede de Drácula", de Bram Stoker, que na verdade se trata de um capítulo inédito de sua obra-prima "Drácula" que, por razões desconhecidas, acabou não entrando nos originais do livro e "O Senhor de Rampling Gate", conto inédito de Anne Rice.

Mais interessado agora? Embora as tramas destes contos sejam mais sutis do que sanguinolentas, creio que este livro deixaria sua biblioteca de livros de horror bem mais interessante, até pelo caráter clássico e influente que cada uma de suas histórias carrega. Portanto, saia logo em busca do seu porque ele é um pouco difícil de ser encontrado por aí.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Resenha: Conspirações



Quase tudo o que não querem que você saiba

Conspirações, de Edson Aran é um livro bem descontraído, embora trate de temas fascinantes e intrigantes que, desde priscas eras, confundem e alarmam (muito) toda a humanidade. Se você quiser levar a sério tudo o que ele é escreve e descreve aqui, a escolha é totalmente sua.

O livro enfoca basicamente, de forma resumida e dinâmica (através de verbetes) as principais teorias da conspiração que surgiram e foram propagadas mundo afora no decorrer de dois milênios de história humana. E para quem ainda não sabe, teoria da conspiração é uma teoria que supõe que um grupo de conspiradores está envolvido num plano e suprimiu a maior parte das provas desse mesmo plano e do seu envolvimento nele. O plano pode ser qualquer coisa, desde a manipulação de governos, economias ou sistemas legais até a ocultação de informações científicas importantes ou assassinato de pessoas que se colocaram em seus caminhos.

Osama Bin Laden é um agente da CIA? A Terra é oca? Jesus Cristo teve filhos? Os nazistas tinham contato com extra-terrestres? Répteis alienígenas estão controlando tudo? Roberto Marinho estava morto desde 2001? Edgar Allan Poe era um assassino? Mulheres são de Urano? Homens são de Sírius? Estas e muitas perguntas povoam constantemente o imaginário das pessoas em todos os lugares.

Apesar de não ser um livro completamente original, pois existem outras publicações que podem ser consideradas mais sérias do que esta, o autor teve o mérito de torná-lo mais acessível e de fácil assimilação para seu leitor, de uma forma até divertida: logo após de apresentar uma teoria das conspiração, ele enumera, com muito humor e sarcasmo, tudo o que já se escreveu e se imaginou a respeito desta mesmíssima, incluindo-se então novas teorias e desdobramentos que muitas vezes não são nem um pouco ortodoxos, geralmente tirando sarro de alguém ou alguma instituição muito famosa.

Mas teorias de conspiração têm esse destino. Muitas delas são vistas com ceticismo e constantemente são ridicularizadas, já que boa parte delas se origina na mente de pessoas nem um pouco confiáveis e desprovidas de mentalidades sãs.

Se você gosta de livros sérios, é melhor não arriscar com este. Mas se gosta de estar antenado com as atualidades do mundo, mesmo que elas não gozem de credibilidade, este é seu livro. Achei tão gostoso de ler e tão descontraído que o conclui praticamente no mesmo dia em que adquiri.

É uma obra perfeita para aqueles momentos em que necessitamos fazer pausas em nossas leituras mais densas. Eu recomendo, mesmo sentindo falta de algumas teorias em seu texto, como o "terceiro segredo de Fátima", já que aquela história de atentado ao Papa João Paulo II até hoje não me convenceu.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Frase (XVI)


"Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo."
[Paulo Francis, jornalista brasileiro, já falecido]

terça-feira, 19 de abril de 2011

Leitura e saúde - Parte II


Dando continuidade à série de postagens iniciadas na terça passada e que se estenderão até a próxima, vamos saber um pouco mais a respeito da relação leitura X saúde. Semana passada abordamos a questão sob um ponto de vista preventivo. Hoje, damos prosseguimento ao tema falando a respeito de uma linha terapêutica em particular: a Biblioterapia.

Segue então um texto bem interessante escrito pela então doutoranda em Psicologia Lucélia Elizabeth Paiva que foi baseado em sua tese, intitulada "A arte de falar da morte: a literatura infantil como recurso para ser abordado com crianças e educadores)".

BIBLIOTERAPIA

Palavra originada do grego Biblion: todo tipo de material bibliográfico ou de leitura

Therapein: tratamento, cura ou restabelecimento.

A leitura é uma atividade que além do desenvolvimento cultural e de formação do cidadão, pode desempenhar um papel terapêutico.

A biblioterapia pode ser aplicada tanto num processo de desenvolvimento pessoal, educacional, como num processo clínico-terapêutico.


É um processo interativo que se utiliza da leitura e outras atividades lúdicas como coadjuvantes, inclusive em tratamentos de pessoas acometidas por doenças físicas e mentais. Pode ser aplicada na educação, na saúde e reabilitação de indivíduos em diversas faixas etárias.

As histórias podem levar a mudanças, pois auxiliam o indivíduo a enxergar outras perspectivas e distinguir opções de pensamentos, sentimentos e comportamentos, dando oportunidades de discernimento e entendimento de novos caminhos saudáveis para enfrentar dificuldades.

Pode ser aplacada no contexto escolar, no processo de hospitalização e de sociabilização.

Abrange quatro estágios:

- O leitor/ouvinte se envolve com a trama e/ou com o personagem da história (envolvimento), promovendo a identificação. Ao identificar-se, pode reconhecer e vivenciar de forma vicária seus sentimentos característicos. Os problemas resolvidos com sucesso farão com que o indivíduo realize uma tensão emocional associada aos seus próprios problemas, atingindo a catarse. Desta forma, pode chegar ao insight, que leva o leitor/ouvinte a aplicar o que aconteceu na história à sua vida pessoal. 


A semelhança do problema da história leva à aproximação da vida pessoal, tornando-o acessível, atingindo uma etapa final, que seria a universalidade, onde se podem compreender outros problemas similares.

Para que esse processo se realize com sucesso é importante a seleção criteriosas do material a ser utilizado, a apresentação e definição da duração do processo e dos materiais, assim como o acompanhamento através da exploração emocional dos materiais e o compartilhamento das experiências.

É importante ter em mente que, ao ler um texto, o indivíduo constrói um texto paralelo, intimamente ligado às suas experiências e vivências pessoais, o que o torna diferente para cada leitor. Assim, conceitos podem ser transmitidos, mas os significados são pessoais e instransferíveis.

Através da biblioterapia, o indivíduo pode ser ajudado a ganhar distanciamento de sua própria dor e expressar seus sentimentos, idéias e pensamentos, o que pode possibilitar uma percepção mais aguçada de sua própria situação de vida, desenvolvendo uma forma de pensar criativa e crítica, alem de diminuir o sentimento de solidão (de sentir-se único a se sentir daquela forma), validar seus sentimentos e pensamentos, desenvolver empatia com outras pessoas (quando a biblioterapia é aplicada em grupo). Isso favorece a diminuição da ansiedade.

No entanto, é importante que se perceba que a biblioterapia não é uma fórmula mágica, nem uma intervenção única para promoção de mudanças. É uma ferramenta ou recurso terapêutico que faz parte de um processo.

A biblioterapia constitui-se em uma atividade interdisciplinar, podendo ser desenvolvida em parceria com a Biblioteconomia, a Literatura, a Educação, a Medicina, a Psicologia, a Enfermagem..., que tem como objetivo a troca de informações entre as áreas relacionadas.


O resultado terapêutico ocorre pelo próprio texto, sujeito a interpretações diferentes por pessoas diferentes.

Desta forma, a biblioterapia constitui-se em um meio possível para se abordar temas existenciais (como a morte, por exemplo) com crianças tanto no contexto da saúde como da educação.

Na próxima semana concluiremos a questão leitura e saúde respondendo a 
uma pergunta bastante crucial: Ler no banheiro faz bem ou faz mal? Não percam.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Resenha: Enquanto a Inglaterra dorme


Amor entre iguais

David Leavitt é um profícuo escritor de origem norte-americana formado em literatura pela conceituada Universidade de Yale. Também docente na disciplina escrita criativa na Universidade da Florida, é autor de vários contos e livros onde a temática homossexual é bastante recorrente. Porém não sei dizer se a mesma faz parte de sua vida pessoal e de seu círculo íntimo, o que, convenhamos, não nos interessa.

Com este livro não poderia ser diferente. A história se passa na Europa da década de 30, quando o fascismo começa a tomar forma em terras inglesas. É neste contexto histórico que o narrador e principal personagem do livro, Brian Bosford, um escritor jovem e promissor pertencente à aristocracia britânica, relata como iniciou um romance tumultuado com Edward Phelan, um funcionário do metrô de Londres, de classe social mais baixa que a sua.

Edward é sensível, idealista e comunista. E, contra todas as convenções da época, resolve viver com Brian sob o mesmo teto. Viveriam felizes para sempre em perfeita comunhão de almas e corpos se Edward não descobrisse que seu complicado e indeciso amante também mantinha um relacionamento com uma mulher, munido da velha desculpa de que sua homossexualidade talvez pudesse ser um fenômeno temporário, cogitando ainda um possível casamento no futuro com a moça em questão.

Desiludido com Brian, Edward alista-se voluntariamente no exército inglês para lutar contra as forças de Franco na Espanha. Porém, movido pela culpa e mesmo não sabendo lidar muito bem com sua própria sexualidade, Brian sai em busca do amante para resgatá-lo, em meio ao caos e à violência da guerra.

Bastante elogiado pela crítica, especialmente o Publishers Weekly,  o romance evolui de uma sutil crônica de costumes sobre o cotidiano de jovens intelectuais ingleses (no melhor estilo dândi), para um sangrento painel sobre um dos períodos mais conturbados da história européia. Eu particularmente achei um pouco meloso em algumas partes, mas no geral trata-se de um livro sutil e maravilhosamente escrito. Talvez o melhor de todos do autor que eu já li. Em alguns momentos, especialmente nos que se referem aos conflitos de classes sociais entre os personagens, a história lembra um pouco a de Maurice, de E. M. Forster, já resenhado aqui no blog. Confira aqui.

Se você não tem preconceitos contra histórias de amor que fujam do convencional, Enquanto a Inglaterra dorme é uma boa pedida. Apesar de não muito denso, acredito que você vibrará com seu enredo, assim como eu o fiz, esperando que o destino de seus personagens se cumprisse de maneira satisfatória e feliz.

sábado, 16 de abril de 2011

O livro de papel já morreu?


Usando as novas ferramentas de comunicação, um grupo de professores da África do Sul está inovando o jeito como se produzem livros didáticos e acabaram se transformando numa experiência acompanhada por diversos centros de tecnologia do mundo. Espalhados em diversas partes do país, eles escrevem coletivamente, numa página da internet, livros sobre todas as matérias ensinadas nas escolas. Mas cada professor adapta o conteúdo para sua realidade local, a começar do seu bairro. Um mesmo livro, portanto, pode ter centenas de diferentes versões.
Como nem todas as escolas têm acesso à internet (onde os conteúdos estão disponíveis gratuitamente), encontraram uma saída. Sem cobrar direitos autorais, eles organizam o material e entregam textos para editoras tradicionais. O livro chega às escolas com um preço mais barato. “Em pouco tempo, o papel será dispensável”, disse o físico Mark Horner, um dos coordenadores do projeto batizado de Siyavula. Essa foi uma das experiências que chamaram a atenção num encontro na semana passada que reuniu, nos EUA, alguns especialistas em inovações tecnológicas e educação. Serve como mais uma provocação sobre o futuro da produção e distribuição do conhecimento no geral e dos livros e dos escritores em particular.
O fim do livro de papel é tido como uma questão de tempo. Isso significa que as livrarias vão desaparecer? Para quem, como eu, tem prazer de andar por livrarias e sentir o papel, essa é uma pergunta incômoda. Andando aqui no metrô, vemos quanta gente aderiu ao livro eletrônico. Algumas escolas resolveram aposentar os livros didáticos de papel, usando até o argumento de que, assim, deixam as mochilas mais leves e preservam a saúde dos estudantes. Comemora-se até o fato de que, com os novos aparelhos, cresce a venda entre os mais jovens. Com o aumento do consumo dos e-books, surgiu um mercado paralelo legal e clandestino de distribuição de arquivos.
Está acontecendo com os escritores o que, no passado, ocorreu com os músicos, quando surgiu o Napster. Depois de muita briga por causa da troca clandestina de arquivos, começaram a reinventar um novo modelo de negócios. Mas cada vez se ganha menos dinheiro vendendo CDs aliás, quase ninguém mais vende CDs. Assim como os mais jovens já não usam mais relógios de pulso. Nem e-mail. A onda de aplicativos está tornando até obsoleta a internet do www. Os músicos podem compensar a queda da renda fazendo shows. O que os escritores deveriam fazer? Palestras remuneradas? Podemos não gostar quando uma mudança tecnológica nos afeta, mas adoramos poder falar pelo Skype sem pagar a ligação telefônica.Não é tão diferente assim dos desafios do jornal que se estruturam para cobrar os conteúdos digitais.
É um desafio que atinge as escolas. Os conteúdos das matérias já podem ser encontrados na internet, algumas vezes com recursos mais interessantes e provocativos do que os dados em sala de aula. O Media Lab, do MIT, desenvolveu uma plataforma (Scratch) em que as próprias crianças fazem seus jogos e trocam suas criações pelo mundo aliás, o MIT desenvolveu conteúdos gratuitos só para o ensino médio.
Como a transmissão do conhecimento não para de crescer, os modelos de negócio, depois do baque, vão se reinventando, gerando perdedores e ganhadores. Alguém poderia imaginar que jornais pagariam parte dos salários dos jornalistas com base no número de clicks em suas páginas ou matérias na internet? Estudos têm mostrado que, depois da onda provocada pelo Napster, não diminuiu a produção musical pelo mundo e a produção de aplicativos foi estimulada. Os desafios da sustentabilidade são enormes, mas as oportunidades são maiores ainda.
Um caso está correndo aqui em Harvard, onde ganha força um ambicioso projeto para criar a maior biblioteca digital do mundo, que é acessível a todos. A pretensão é nada menos do que selecionar todo o conhecimento já produzido pela humanidade. Uma das inspirações é a Europeana, na qual se encontra 15 milhões de versões digitais de livros e obras de arte. Além de Harvard, estão aderindo ao projeto as maiores universidades americanas com seus monumentais acervos de livros, além da biblioteca do Congresso americano. Representantes da Apple, Microsoft e Google estão participando dos encontros.
Os livros de papel, os CDs e até as escolas tradicionais podem morrer. Mas o conhecimento está cada vez acessível.
PS.: Coloquei na internet (www.catracalivre.com.br) mais detalhes dos projetos citados nesta coluna.
[Texto de Gilberto Dimenstein para a Folha de São Paulo, 10/4/2011]

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Poesia (XIII)


Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo. 

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão. 

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira. 

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta. 

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente. 

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem. 

Traduzir uma parte
na outra parte
 que é uma questão
de vida ou morte 
será arte?


 [Ferreira Gullar. Poesia retirada do livro Na Vertigem do Dia, 1980]
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