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terça-feira, 19 de abril de 2011

Leitura e saúde - Parte II


Dando continuidade à série de postagens iniciadas na terça passada e que se estenderão até a próxima, vamos saber um pouco mais a respeito da relação leitura X saúde. Semana passada abordamos a questão sob um ponto de vista preventivo. Hoje, damos prosseguimento ao tema falando a respeito de uma linha terapêutica em particular: a Biblioterapia.

Segue então um texto bem interessante escrito pela então doutoranda em Psicologia Lucélia Elizabeth Paiva que foi baseado em sua tese, intitulada "A arte de falar da morte: a literatura infantil como recurso para ser abordado com crianças e educadores)".

BIBLIOTERAPIA

Palavra originada do grego Biblion: todo tipo de material bibliográfico ou de leitura

Therapein: tratamento, cura ou restabelecimento.

A leitura é uma atividade que além do desenvolvimento cultural e de formação do cidadão, pode desempenhar um papel terapêutico.

A biblioterapia pode ser aplicada tanto num processo de desenvolvimento pessoal, educacional, como num processo clínico-terapêutico.


É um processo interativo que se utiliza da leitura e outras atividades lúdicas como coadjuvantes, inclusive em tratamentos de pessoas acometidas por doenças físicas e mentais. Pode ser aplicada na educação, na saúde e reabilitação de indivíduos em diversas faixas etárias.

As histórias podem levar a mudanças, pois auxiliam o indivíduo a enxergar outras perspectivas e distinguir opções de pensamentos, sentimentos e comportamentos, dando oportunidades de discernimento e entendimento de novos caminhos saudáveis para enfrentar dificuldades.

Pode ser aplacada no contexto escolar, no processo de hospitalização e de sociabilização.

Abrange quatro estágios:

- O leitor/ouvinte se envolve com a trama e/ou com o personagem da história (envolvimento), promovendo a identificação. Ao identificar-se, pode reconhecer e vivenciar de forma vicária seus sentimentos característicos. Os problemas resolvidos com sucesso farão com que o indivíduo realize uma tensão emocional associada aos seus próprios problemas, atingindo a catarse. Desta forma, pode chegar ao insight, que leva o leitor/ouvinte a aplicar o que aconteceu na história à sua vida pessoal. 


A semelhança do problema da história leva à aproximação da vida pessoal, tornando-o acessível, atingindo uma etapa final, que seria a universalidade, onde se podem compreender outros problemas similares.

Para que esse processo se realize com sucesso é importante a seleção criteriosas do material a ser utilizado, a apresentação e definição da duração do processo e dos materiais, assim como o acompanhamento através da exploração emocional dos materiais e o compartilhamento das experiências.

É importante ter em mente que, ao ler um texto, o indivíduo constrói um texto paralelo, intimamente ligado às suas experiências e vivências pessoais, o que o torna diferente para cada leitor. Assim, conceitos podem ser transmitidos, mas os significados são pessoais e instransferíveis.

Através da biblioterapia, o indivíduo pode ser ajudado a ganhar distanciamento de sua própria dor e expressar seus sentimentos, idéias e pensamentos, o que pode possibilitar uma percepção mais aguçada de sua própria situação de vida, desenvolvendo uma forma de pensar criativa e crítica, alem de diminuir o sentimento de solidão (de sentir-se único a se sentir daquela forma), validar seus sentimentos e pensamentos, desenvolver empatia com outras pessoas (quando a biblioterapia é aplicada em grupo). Isso favorece a diminuição da ansiedade.

No entanto, é importante que se perceba que a biblioterapia não é uma fórmula mágica, nem uma intervenção única para promoção de mudanças. É uma ferramenta ou recurso terapêutico que faz parte de um processo.

A biblioterapia constitui-se em uma atividade interdisciplinar, podendo ser desenvolvida em parceria com a Biblioteconomia, a Literatura, a Educação, a Medicina, a Psicologia, a Enfermagem..., que tem como objetivo a troca de informações entre as áreas relacionadas.


O resultado terapêutico ocorre pelo próprio texto, sujeito a interpretações diferentes por pessoas diferentes.

Desta forma, a biblioterapia constitui-se em um meio possível para se abordar temas existenciais (como a morte, por exemplo) com crianças tanto no contexto da saúde como da educação.

Na próxima semana concluiremos a questão leitura e saúde respondendo a 
uma pergunta bastante crucial: Ler no banheiro faz bem ou faz mal? Não percam.

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