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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nossa Língua (V)



Mais algumas curiosidades. Vamos a elas?

O mundo está cheio de matanças, mas há algumas diferenças entre elas: o filho que mata o pai comete um parricídio. O filho que mata a mãe comete um matricídio. Os pais que matam o filho cometem um filicídio. A mulher que mata o marido comete um mariticídio. E o marido que mata a esposa comete (que horrível) um uxoricídio.

Para cada realidade concreta existe uma palavra adequada. Quando um avião desce no aeroporto, aterrissa ou aterriza. Quando o hidroavião pousa no mar, amerissa. E quando uma nave pousa na lua, alunissa ou aluniza.

É bom saber que algumas palavras do nosso vocabulário vieram do francês e, embora possamos usá-las tranqüilamente, possuem correspondentes exatos no português. Para ateliê temos oficina; para complô temos conspiração; para menu temos cardápio; e para omelete temos fritada de ovos. Uma rara exceção é abajur, que foi aportuguesado do francês abajour.

Hoje, há quem diga que precisamos falar politicamente correto, evitando expressões racistas como: ele judiou de mim, a coisa tá preta ou você está denegrindo minha imagem. Até os brancos começam a se revoltar quando ouvem o vestibulando reclamar: Xi... me deu um branco! 

A distinção entre hora e horário é delicada, mas real. Hora pode ser definida como a 24ª parte de um dia inteiro ou como um período de 60 minutos. Já horário (tanto substantivo como adjetivo) refere-se a um período com mais de 1 hora: horário do ônibus, horário nobre, fuso horário, carga horária. Uma comparação: calendário é o período de dias, palavra proveniente de calendas que, em latim, era o primeiro dia do mês.

Falar e dizer não são sinônimos. Quem fala, fala bem, fala muito, fala com alguém, fala diante dos outros. Já quem diz, diz a verdade, diz o que pensa, diz besteira, diz o que não deve. Falar tem a ver com o ato da fala. Dizer tem a ver com o conteúdo expresso por aquele que fala. Falou?

Existe uma doença que admite os quatro usos que médicos e pacientes fazem dela: a diabete, a diabetes, o diabete e o diabetes. Por outro lado, no caso da palavra terminada em s, o adjetivo que lhe segue fica no singular: diabetes insípido, diabetes melito, diabetes sacarino ou diabetes sacarina.

Li, certa vez, numa placa: "É proibida a instalação de autofalantes." O ouvido doeu. Não tanto pelo medo de ouvir alguém gritando pelo alto-falante, mas por imaginar como alguém poderia fazer o casamento entre um automóvel e um falante, que ainda por cima era proibido instalar.

A prosódia indica-nos a maneira certa de pronunciar as palavras, levando em conta a sua tonicidade, conhecimento que ajuda a grafá-las corretamente. Rubrica fala-se rubrica, com o i tônico, mas não acentuado. Ruim é ruim, com i tônico, mas não acentuado. Maquinaria é maquinaria, com i tônico mas não acentuado. E pudico fala-se pudico mesmo, com i tônico, e esse i também não é acentuado.

Metonímia é uma figura de linguagem em que se usa uma palavra no lugar de outra, estando as duas estreitamente relacionadas. Quando eu digo que a novela está sem ibope trata-se de uma metonímia, porque ibope é a sigla do Instituto Brasileiro de Opinião Pública, e o que a novela não tem mesmo é audiência, cujo índice, aí sim, é calculado pelo Ibope.

Às vezes falamos com imprecisões de sentido, e valeria a pena caprichar. Por exemplo: febre alta. Na verdade, toda febre é temperatura alta.Febre baixa, pelo menos na medicina gramatical, também não existe. Outro exemplo: tirar a pressão. Se uma enfermeira tirar a minha pressão sangüínea eu morro na hora. É bem melhor pedir-lhe para medir a pressão.

Hoje é hoje. Amanhã é depois de hoje. E depois de amanhã (sem hífens) é daqui a dois dias. E como voltar para o passado? Ontem foi antes de hoje. Antes de ontem é anteontem. E antes de anteontem? Trasanteontem. Por incrível que pareça.

Depois do décimo carneirinho, podemos contar, sem hífen: décimo primeiro, décimo segundo. Depois: vigésimo, vigésimo primeiro, vigésimo segundo, também sem hífen. Depois: centésimo, centésimo primeiro... também sem hífen. E se a insônia for longa, milionésimo, bilionésimo, trilionésimo primeiro, trilionésimo segundo... e boa-noite!

O vocativo é a palavra que serve para chamar alguém ou um animal. Se estiver no meio da frase, vem entre vírgulas. Se estiver no início, põe-se uma vírgula depois. Se vier no final, põe-se uma vírgula antes. Vejamos: José, e agora? E agora, José? Mas, José, e agora?

Na frase acima, a palavra melhor pertence a três categorias gramaticais diferentes. O melhor (substantivo), se for melhor (adjetivo), melhor (advérbio) viverá. Deles, o último é invariável. A frase no plural fica assim: os melhores, se forem melhores, melhor viverão.

Como tratar pessoas que ocupam cargos importantes? Um cardeal é Vossa Eminência. Um ministro é Vossa Excelência. Um prefeito também. Um reitor é Vossa Magnificência. Um padre é Vossa Reverendíssima. Um gerente de banco é Vossa Senhoria. Um coronel também. E o papa é Vossa Santidade. Se estamos acostumados a chamar todo mundo de você, é melhor mudar de hábito...

Até no açougue é preciso falar bem. Quando queremos comprar a parte traseira acima das coxas do animal, devemos pedir alguns gramas ou mesmo um quilo de coxão. Trata-se do aumentativo de coxa. Há quem fale colchão, mas isso já é conversa pra boi dormir.

O que comemoramos no dia primeiro de maio? Quem respondeu o Dia do Trabalho, deveria trabalhar em dobro nesse dia. Comemoramos o Dia do Trabalhador, em analogia com outras datas ao longo do ano em que lembramos o jornalista, o médico e a secretária. Esse feriado nasceu para homenagear operários mortos durante uma passeata no dia 10 de maio de 1889, em Chicago.

Vários nomes que, no singular, possuem na sílaba tônica um o fechado - povo, poço, glorioso e olho - no plural experimentam mudança de timbre. As palavras povos, poços, gloriosos e olhos são pronunciadas com o o aberto. É o caso também de novos, porcos e coros. Este é um exemplo de apofonia. E como toda a regra tem a sua exceção, gostos, tronos e bolsos têm o o tônico fechado.

O uso contínuo de uma expressão errada torna o erro invisível. Poucos vêem o equívoco de usar a palavra penalizar no sentido de punir e castigar. É comum ouvirmos, por exemplo: os jogadores foram penalizados com a expulsão. Penalizar, na verdade, significa causar dor e tristeza. Ele ficou penalizado (ficou triste) ao ver a expulsão dos jogadores. O certo, então, é mudar o verbo da frase anterior, e escrever assim: os jogadores foram punidos com a expulsão. 

Várias palavras, no plural, adquirem significados diferentes. Ouro, no singular, é o metal precioso. Ouros, no plural, é um dos naipes das cartas do baralho. Bem é o contrário de mal. Bens são as propriedades que uma pessoa tem. Letra é um caractere do alfabeto. Letras é o curso universitário. Liberdade é o poder de escolher. Liberdades é quando a moça repreende o rapaz apressadinho: - Vamos parar com essas liberdades?

No mundo da diplomacia, um deslize verbal pode abalar o relacionamento entre dois países. Jamais devemos chamar uma embaixadora de embaixatriz. Ambas as palavras fazem o feminino de embaixador. Porém, a diferença entre uma e outra é imensa: embaixadora é a mulher que ocupa o cargo mais elevado numa embaixada, e embaixatriz é apenas... a esposa do embaixador.


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