Contos muito bons
Inicio esta resenha do livro de Lima Trindade sendo bastante sincero, especialmente com o próprio autor, que é meu amigo: não gostei de todos os contos, mas apreciei muitíssimo a maior parte deles.
Particularmente, considero este fato até normal quando estamos às voltas com livros que tratam do gênero conto. Não gostar de todas as histórias de uma obra já ocorreu antes comigo e com certeza deve ter acontecido com muitas outras pessoas. E, em relação a mim, aconteceu até mesmo quando li contos policiais de Arthur Conan Doyle, inclusive alguns com seu personagem mais célebre, o destemido e perspicaz detetive Sherlock Holmes. E olha que Sir Conan Doyle figura entre meus autores favoritos de todos os tempos!
Mas voltando ao Corações blues e serpentinas, o mesmo não é nenhum livro policial ou de detetives. Ele trata, fundamentalmente, de um tema com o qual todos nós, seres humanos, estamos familiarizados, seja em maior ou em menor intensidade de espírito: o amor. Seus quinze contos investigam as mais diversas nuances e tonalidades das relações amorosas, inseridas em dias atuais.
A obra é dividida em duas partes: “Blues”, que trata mais de conflitos e dificuldades às quais as relações íntimas estão sujeitas (o termo ‘blues’ vem de tristezas) e “Chorinhos”, onde se percebe que amar também pode ser prazeroso algumas vezes. E nesse caldeirão de contos, Lima Trindade, como diz uma informação da orelha de seu livro, “reproduz o inconsciente de sua geração, que viveu o rock, a renovação na literatura, no cinema e no teatro, as lutas das minorias, a liberação sexual, a mudança de costumes, o embate ideológico e outros conflitos.” Por isso, seu livro é uma verdadeira festa para aqueles que estão antenados com o contemporâneo e com inúmeras referências ‘pop’ oriundas de canções, histórias em quadrinhos, filmes e outros meios de informação e entretenimento.
O homoerotismo, tema um tanto tabu em produções literárias também dá movimento, vida e cor à maior parte dos contos, mas também encontramos na obra o amor entre homem e mulher, caso alguém tenha alguma ressalva contra histórias que envolvam 'amor transgressor’. Entre os contos que mais gostei, destaco então “Noite num hotel da Asa Norte” (sobre as dúvidas de um jovem homossexual sobre vida e amor), “O balão amarelo” (pela poesia que exala, muito bem escrito por sinal), “Leponex” (uma espécie de Eduardo & Mônica – canção da Legião Urbana – adaptado para os dias atuais), “Três movimentos para um selvagem desamor” (sobre o amor entre duas mulheres de gerações diferentes), “A primeira vez” (paixão platônica e avassaladora de um escritor iniciante por seu ídolo), “Anjinho barroco” (relação homo que oscila entre o sagrado e o profano), “Uma vez no céu escuro e brilhante” (uma ficção científica com tons de arco-íris) e “Queen Sally II” (de longe o que mais gostei, pelo fator surpresa).
Este foi o terceiro livro que Lima lançou em sua profícua carreira e o primeiro dele que li. Que venham outros mais então, pois talento não lhe falta e com certeza belas histórias para nos contar também não. Procure conhecer, portanto (assim como eu), as suas produções.
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