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terça-feira, 3 de maio de 2011

Resenha: Cinzas do Norte


Um livro denso, poderoso


Cinzas do Norte é o  terceiro romance de Milton Hatoum e de longe aquele que mais gostei. Como confesso fã e conterrâneo que sou do autor, já li quase toda a sua obra, à exceção de sua estréia, "Relato de Um Certo Oriente", e espero, ainda este ano, poder preencher esta lacuna incômoda que existe entre minhas leituras, até porque ando sentindo mesmo um pouco de falta da forma peculiar com que Milton Narra seus romances.

Alguns leitores de primeira viagem ou desavisados podem estranhar, mas em algumas de suas obras, há uma grande variedade de pessoas que narram as histórias. Umas vivas, outras mortas, algumas conhecidas, outras desconhecidas. Não é todo mundo que se dá de imediato com o estilo do autor, como percebo em inúmeras resenhas pela internet afora. Porém, recomendo com louvor a adesão de novos leitores ao seleto fã-clube de Milton.

Mas voltando ao Cinzas, o mesmo relata a gênese, o desenvolvimento, a culminância e a conclusão de uma longa revolta e do esforço de compreendê-la, já que a mesma não é nenhuma guerra ou batalha no plano físico, mas no psicológico de alguns personagens da trama. 

Na Manaus dos anos 50 e 60, dois meninos travam uma amizade que atravessará toda uma vida. De um lado, Olavo, o Lavo, narrador, menino órfão criado por dois tios sem eira e nem beira, que cresce à sombra da poderosa família Mattoso; de outro, Raimundo ou Mundo, filho único deste referido clã, saído do ventre de Alícia, uma mãe jovem e  passional e herdeiro (literalmente) do aristocrático Trajano Mattoso. 

No centro das ambições de Trajano está a Vila Amazônia, palacete junto à cidade de Parintins que é a sede de uma plantação de juta e também o pesadelo máximo de Mundo. Dotado de inclinações artísticas e propenso a  investigar suas mais profundas angústias, o jovem engalfinha-se numa constante luta contra a autoridade paterna, com o lugar onde vive e de onde quer voar, a moral dominante da época e  também com os militares que tomam o poder em 1964 e que desencadeiam uma vertiginosa destruição à cidade de Manaus, outrora conhecida como a "Paris dos Trópicos", graças ao período áureo da borracha. 

Na luta que culmina em uma inevitável fuga de tudo que o oprime, especialmente do pai, Mundo amplia o seu universo particular, ganhando o mundo afora no decorrer da década seguinte. E na distante Europa, onde se instala, manda ocasionais sinais de vida para Lavo, que ajudado pelo pai de Mundo, se torna advogado, mas ainda preso à terra natal. 

Vários desdobramentos completam a narrativa de Cinzas do Norte. São versões e revelações que se cruzam ou desencontram, dando à história uma singularidade única, onde o leitor provavelmente se identificará com o sofrimento de Mundo e com suas tentativas de se firmar na vida. Impossível ficar indiferente aos seus dramas pessoais.

Sem falar que na trama existe um grande segredo que vale a pena ser desvendado. Portanto, convido você, leitor, a mergulhar de corpo e alma nas páginas desta obra densa, poderosa e que te prende. Ela realmente vale a pena.

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