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terça-feira, 31 de maio de 2011

Amanda Hocking, a mais nova milionária do mundo literário


Amanda Hocking: guarde esse nome porque em breve você ouvirá falar muito dele em jornais e revistas.
Amanda tem 26 anos e recentemente atingiu a marca de 1 milhão de livros vendidos.
Até aí, apenas uma história de sucesso literário. Mas tem mais.
A história na verdade começa com um episódio de rejeição.
Depois de ter manuscritos recusados por inúmeras editoras nos Estados Unidos, Amanda decidiu que lançaria seus livros por conta própria para plataformas como as do Kindle e do Nook.
E, por cada um, cobraria 99 centávos de dólar (aproximadamente R$ 1,60).
Em um mês, vendeu 100 mil livros eletrônicos.
Em menos de um ano foi capaz de largar um emprego formal e passou a viver da venda de seus livros.
Em abril deste ano, comprou sua primeira casa e pagou em dinheiro, segundo ela.
A verdade é que Amanda está milionária.
Seus livros, romances juvenis que exploram a paranormalidade (ela já lançou inclusive uma trilogia –SwitchedTorn e Ascend), continuam vendendo aos milhares, e apenas eletronicamente. E agora ela está famosa. No mesmo mês em que comprou sua casa ela foi destaque na edição americana da revista Elle.

Amanda é hoje, provavelmente, a autora indie de e-books mais bem sucedida do mundo.

Fonte: Blog Livros, de Milly Lacombe. Reportagem reproduzida integralmente.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Frase (XVIII)


"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história."

[Bill Gates, bilionário americano e criador da Microsoft]

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Poesia (XVI)


Do Amor

Não falo do amor romântico,
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.


Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, 
inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine?


Minha resposta? O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
Quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.

A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.


O amor brilha. como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.


A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

[Paulinho Moska]

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Trecho selecionado (XV)



"As palavras são de Rufus Jones:

Não estou interessado em construir novas torres de Babel usando como desculpa a idéia de que preciso chegar até Deus.
Estas torres são abomináveis; algumas são feitas de cimento e tijolos; outras, com pilhas de textos sagrados. Algumas foram construídas com velhos rituais, e muitas são erigidas com as novas provas científicas da existência de Deus.
Todas estas torres, que nos obrigam a escalá-las desde uma base escura e solitária, podem nos dar uma visão da Terra – mas não nos conduzem ao Céu.
Tudo que conseguimos é a mesma e velha confusão de línguas e emoções.
As pontes para Deus são a fé, o amor, a alegria e a oração."

[Trecho de Maktub, de Paulo Coelho]

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Resenha: Londres, O Romance


2000 anos de História

Quem conhece Londres, costuma dizer que a mesma se trata de uma cidade fascinante.

Cosmopolita, moderna, acolhedora de várias culturas, mesmo com a fama de fleumática e formal. Não a conheço ainda, mas gostaria de realizar um dia este sonho. E foi por conta deste fascínio que também trago em meu espírito é que adquiri este livro de Edward Rutherfurd.

Em Londres, O Romance, pode-se dizer que, embora estática, a cidade é a protagonista incontestável das tramas e aventuras contidas na obra e seus inúmeros personagens, meros coadjuvantes.

Em 2000 anos de história, pessoas e situações (reais e fictícias) não faltam à obra. Dos primórdios da História, com tribos nômades até dias atuais, o autor relata a evolução e o crescimento de um pequeno vilarejo (Londinium) de forma bem criativa, dando vida a diversas gerações de famílias que ao longo do livro terão suas vidas reveladas e até entrelaçadas entre si (destacando-se clãs como os Duckett e os Silversleeves).

Você conhecerá então, ao lado e interagindo com personagens consagrados da história inglesa, indivíduos como Julius, fabricante romano de moedas, que arrisca sua vida para encontrar um tesouro enterrado; Dame Barnikel, dona da taverna freqüentada pelo renomado poeta Geoffrey Chaucer e seus peregrinos; Geoffrey Ducket, fundador de uma importante família da nobreza; Edmund Meredith e os atores da companhia de Shakespeare, no Teatro Globo; e a pequena Lucy, que vivia nas margens enlameadas do Tâmisa descrito por Charles Dickens em seus romances.

O livro é bastante volumoso, com mais de 1000 páginas. Mas se você gosta de cultura geral e assuntos de teor histórico, com certeza o apreciará bastante como eu apreciei. Confesso até que alguns capítulos me deixaram bastante empolgado com os acontecimentos narrados, a ponto de torcer fervorosamente pelo destino favorável de alguns personagens, bastante cativantes, como a bela e imponente Lady Elfgiva, que por ter se convertido ao cristianismo contra a sua vontade e por razões puramente políticas, saiu nua em pêlo em cima de um cavalo branco em protesto pelas ruas da cidade onde vivia, passando a ser conhecida historicamente como Lady Godiva.

Londres, O Romance também possui os méritos de ter ritmo leve e agradável de leitura (graças ao empenho de seu autor, que para meu alívio, pouco deixou-se levar pelo didatismo típico de livros de História) e de sincronizar, em perfeita harmonia, seus personagens às épocas retratadas em cada capítulo.

Recomendo sua leitura então com louvor. Se teve o poder de me empolgar, com certeza também poderá encantar você. Por isso, procure-o e tire suas próprias conclusões. Quanto a mim, mergulharei em planos mirabolantes para conhecer a cidade pessoalmente um dia.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Resenha: A viagem de Théo


Viajar é conhecer

Em tempos de guerras e desentendimentos pelo mundo afora, muitas vezes motivadas pela intolerância entre as pessoas, falar ou escrever sobre religião é algo complicado. Mas, é inegável o fato de que o tema, apesar de difícil para alguns, é fascinante para outros. 

Por que então muitas pessoas acreditam na existência de seres supremos capazes de controlar seus destinos? Por que algumas pessoas também insistem em não acreditar nestas deidades? Foi motivada por essas perguntas que a escritora francesa Catherine Clément escreveu o livro A Viagem de Théo, também conhecido como O Romance das Religiões.

Com um enorme conhecimento da causa, devido às incansáveis pesquisas realizadas para que esta sua obra fosse possível, Catherine deu vida a Théo, um pré-adolescente que nasceu e que vive em Paris, França.

Ao contrário de outros meninos de sua idade, ávidos por aventuras ao ar livre e desafios radicais, Théo é melancólico e recluso, vivendo preso aos ínumeros livros que mantém em seu quarto, para a perplexidade de seus pais e algumas pessoas próximas, que gostariam de vê-lo mais solto e sociável.

Mas o que aparentemente parecia irremediável começa a se transformar quando Théo é diagnosticado com câncer de natureza maligna e terminal. E em seus momentos de dor e solidão auto-infligida, ele começa a se questionar qual seria o sentido da vida, ainda mais para ele, que nunca professou qualquer tipo de religião por ser filho de pais ateus.

É nessa deixa que surge na história a riquíssima irmã de seu pai, a cosmopolita e espertíssima Tia Marthe, que lhe faz a inusitada proposta de viajar mundo afora e buscar respostas para as suas indagações. Juntos visitarão os berços das principais religiões do mundo, como o Vaticano, em Roma (catolicismo), Varanasi, na Índia (hinduísmo), Jerusalém, em Israel (judaísmo) e muitos outros lugares. Até onde eles conseguirão ir juntos e o que Théo e sua tia aprenderão com essa jornada?

Cabe a você, leitor, descobrir, ainda mais se gosta do tema, se é espiritualizado ou se simplesmente ama obter conhecimentos sobre outras culturas ou assuntos relacionados a viagens pelo mundo afora. Na época em que li o livro (final dos anos 1990), quando era mais jovem, gostei muito da história, apesar de achar o estilo da autora um pouco didático e maçante em alguns momentos da trama. Porém, apesar da lentidão, a história de Théo prendeu-me do começo ao fim.

Portanto, se for do seu interesse, não perca mais tempo: vamos viajar?

Considerando que cada livro que lemos é uma verdadeira viagem, tenho certeza que esta aqui será bem fácil e prazerosa de se encarar. Isst é algo que eu, viajante experiente nas páginas desta obra, lhe garanto.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Resenha: Sombras da Noite



Contos de mestre


Stephen King é um sujeito que dispensa apresentações caso você tenha vivido neste planeta nas últimas cinco décadas e seja do tipo antenado com as novidades do cinema, da televisão e principalmente da literatura fantástica. Mas caso ainda não saiba de quem se trata, farei um breve resumo sobre algumas coisas que fez ou que estão de certa forma ligadas a ele, a fim de refrescar-lhe a memória. 

Já ouviu falar em um certo cemitério maldito, onde quem nele foi enterrado acabou voltando à vida de forma estranha? E em Carrie, uma garota esquisita e sem graça que, com poderes inexplicáveis, dizimou todos os alunos e professores de sua escola na noite do baile de formatura? Ou então já deve ter ouvido falar em uma certa cidade perdida no interior dos Estados Unidos onde as pessoas nunca envelhecem graças a um poder oriundo de um milharal demoníaco, que exige como pagamento de seus préstimos a sua periódica adubagem com sangue humano fresco.

E então? Estas histórias lhe soam familiares? A última, em particular, se trata de um dos vinte contos que integram este livro. E sim, Sombras da Noite é um livro de contos, um dos melhores de Stephen King, o mestre máximo do terror na literatura, apesar de algumas poucas e enfadonhas exceções que podem ser encontradas nesta obra. Publicada originalmente na terra natal de King em 1978, faço então um breve resumo das histórias que classifiquei como as melhores:

Jerusalem's Lot: atualmente, uma cidade fantasma da qual ninguém ousa se aproximar, principalmente à noite (leia o livro A Hora do Vampiro, também de King, para saber mais). Mas este conto (escrito na forma de cartas trocadas entre alguns personagens) narra acontecimentos decisivos e sinistros que ocorreram no local antes que o mal se espalhasse completamente por ele.

Último turno: é o conto que justifica a ilustração da capa da atual edição brasileira do livro (a que ilustra o post) e que foi produzido em filme em 1990 sob o título de A Criatura do Cemitério. Um grupo de pessoas que trabalham com limpeza pública e esgotos resolvem explorar a fundo um de seus locais de serviço e acabam encontrando o inimaginável...

Ondas noturnas: a humanidade inteira é, aparentemente, dizimada por um vírus mortal. Mas existem alguns sobreviventes...

A máquina de passar roupas: é o conto de King que deu origem a uma das histórias relatadas no filme Mangler - O grito de terror. E se passa em uma lavanderia que possui em seu mobiliário uma máquina de passar roupas com um apetite voraz por carne humana.

O bicho-papão: homem discute com seu psicoterapeuta fatos macabros e inexplicáveis do seu passado que sempre lhe assombraram. Existiria mesmo o ser sobrenatural que dá nome ao título do conto?

Massa cinzenta: uma bebida com efeitos sinistros. Um homem que, repentinamente, pára de ser visto em sua vizinhança e agora vive recluso em seu apartamento. Que segredos ele e seu único filho guardariam?

Campo de batalha: este conto foi adaptado com êxito para um dos episódios da série Nightmares & Dreamscapes. Um talentoso assassino profissional chega em casa após mais um dia de sucesso em suas empreitadas escusas. A mais recente? Assassinar o proprietário de uma fábrica de brinquedos. Porém, o que ele jamais poderia prever era a vingança do morto, na forma de simples soldadinhos que lhe são enviados de presente...

Caminhões: este deu origem às duas versões de Comboio do Terror, uma de 1986 (dirigida pelo próprio King) e um remake de 1997. Imagine pessoas entrando em uma lojinha numa estrada de fim de mundo e descobrindo, logo depois, que todos os caminhões ao redor criaram vida própria e decidiram fazer uma rebelião contra os humanos.

Primavera Vermelha: não poderia faltar neste livro uma história envolvendo assassinos em série, não é? Esta também fez parte do filme Mangler - O grito de terror e narra a volta de um deles à ativa, depois de longos anos de inatividade. E nos mesmíssimos arredores da universidade na qual, anteriormente, causou terror entre os estudantes, sem jamais ser capturado pelas autoridades.

O Ressalto: Conto que foi adaptado para o filme Olhos de Gato. Um magnata resolve acertar as contas em definitivo com o amante tenista de sua esposa, mas de uma forma inusitada: se o sujeito conseguir dar a volta no prédio em que estão, usando apenas o ressalto, ele sairá vivo da história, ainda por cima com a mulher e com uma boa quantidade de dinheiro. Será que ele aceitou?

Ex-fumantes LTDA: também adaptado para Olhos de Gato, narra os métodos pouco ortodoxos que uma empresa utiliza para coagir fumantes a largar seus vícios em cigarros e charutos.

As crianças do milharal: é a história do filme Colheita Maldita, a qual já descrevi aqui na resenha, sobre o milharal e as crianças que nunca envelhecem e como um casal de namorados arca com as consequências quando chegam ao local sem serem convidados.

O último degrau da escada: é o único conto que destoa dos demais do livro por ser triste, melancólico. É a história de dois irmãos e um acidente trágico que muda suas vidas. Tocante.

O homem que adorava flores: Um rapaz feliz andando pelas ruas, carregando um buquê de flores. As pessoas ao redor logo o imaginam apaixonado, feliz com alguma namoradinha. Mas as aparências enganam...

A saideira: De volta à maldita Jerusalem's Lot, ficamos cara a cara com o mal supremo que vive escondido nos subterrâneos da insuspeita igrejinha da cidade.

Impressionado com as histórias? Há outras, claro, mas se não foram do meu gosto, podem ser do seu. Então, o que está esperando? Leia. King é rei!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Resenha: Corações Blues e Serpentinas


Contos muito bons

Inicio esta resenha do livro de Lima Trindade sendo bastante sincero, especialmente com o próprio autor, que é meu amigo: não gostei de todos os contos, mas apreciei muitíssimo a maior parte deles. 

Particularmente, considero este fato até normal quando estamos às voltas com livros que tratam do gênero conto. Não gostar de todas as histórias de uma obra já ocorreu antes comigo e com certeza deve ter acontecido com muitas outras pessoas. E, em relação a mim, aconteceu até mesmo quando li contos policiais de Arthur Conan Doyle, inclusive alguns com seu personagem mais célebre, o destemido e perspicaz detetive Sherlock Holmes. E olha que Sir Conan Doyle figura entre meus autores favoritos de todos os tempos!

Mas voltando ao Corações blues e serpentinas, o mesmo não é nenhum livro policial ou de detetives. Ele trata, fundamentalmente, de um tema com o qual todos nós, seres humanos, estamos familiarizados, seja em maior ou em menor intensidade de espírito: o amor. Seus quinze contos investigam as mais diversas nuances e tonalidades das relações amorosas, inseridas em dias atuais.

A obra é dividida em duas partes: “Blues”, que trata mais de conflitos e dificuldades às quais as relações íntimas estão sujeitas (o termo ‘blues’ vem de tristezas) e “Chorinhos”, onde se percebe que amar também pode ser prazeroso algumas vezes. E nesse caldeirão de contos, Lima Trindade, como diz uma informação da orelha de seu livro, “reproduz o inconsciente de sua geração, que viveu o rock, a renovação na literatura, no cinema e no teatro, as lutas das minorias, a liberação sexual, a mudança de costumes, o embate ideológico e outros conflitos.” Por isso, seu livro é uma verdadeira festa para aqueles que estão antenados com o contemporâneo e com inúmeras referências ‘pop’ oriundas de canções, histórias em quadrinhos, filmes e outros meios de informação e entretenimento.

O homoerotismo, tema um tanto tabu em produções literárias também dá movimento, vida e cor à maior parte dos contos, mas também encontramos na obra o amor entre homem e mulher, caso alguém tenha alguma ressalva contra histórias que envolvam 'amor transgressor’. Entre os contos que mais gostei, destaco então “Noite num hotel da Asa Norte” (sobre as dúvidas de um jovem homossexual sobre vida e amor), “O balão amarelo” (pela poesia que exala, muito bem escrito por sinal), “Leponex” (uma espécie de Eduardo & Mônica – canção da Legião Urbana – adaptado para os dias atuais), “Três movimentos para um selvagem desamor” (sobre o amor entre duas mulheres de gerações diferentes), “A primeira vez” (paixão platônica e avassaladora de um escritor iniciante por seu ídolo), “Anjinho barroco” (relação homo que oscila entre o sagrado e o profano), “Uma vez no céu escuro e brilhante” (uma ficção científica com tons de arco-íris) e “Queen Sally II” (de longe o que mais gostei, pelo fator surpresa).

Este foi o terceiro livro que Lima lançou em sua profícua carreira e o primeiro dele que li. Que venham outros mais então, pois talento não lhe falta e com certeza belas histórias para nos contar também não. Procure conhecer, portanto (assim como eu), as suas produções.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Resenha: O amor não escolhe sexo


Um doloroso embate entre aceitação e discriminação

"Existe o lado escuro da Lua: preconceitos e discriminações. Mas existe o lado iluminado pelo Sol - um jeito feliz de viver, com solidariedade e respeito, apesar das diferenças."

É com essa premissa que Giselda Laporta Nicolelis (uma já veterana e consagrada autora de livros para jovens) dá o ponto de partida àquele que é  considerado, talvez, o primeiro livro infanto-juvenil pulicado em terras brasileiras (1997) a abordar, abertamente, a delicada e até então controversa questão da homossexualidade entre o meio juvenil.

O amor não escolhe sexo relata a história de um jovem bonito, rico, inteligente, encantador, bom aluno e muito popular na escola, Marco Aurélio, que se vê apaixonado pelo seu melhor amigo, Cristiano. Trata-se de uma obra sensível, que nos leva a refletir sobre o preconceito, mesmo que a autora demonstre, em alguns momentos da narrativa, uma certa insegurança em abordar o tema, o que numa época de incompreensão como aquela em que foi lançado é totalmente justificável, pois lá no fundo sabemos que as editoras querem que seus livros façam sucesso e vendam bem, muitas vezes desconsiderando entre seus livros temas espinhosos que venham lhe trazer possíveis prejuízos.

Marco Aurélio e Gislaine; Cristiano e Tamires. Aparentemente, dois casais de adolescentes apaixonados (especialmente o primeiro). Mas, até que ponto o amor resiste a pressões? Quando a  real orientação sexual se revela, como a pessoa reage para não sucumbir ao estigma?

Abordando o lado mais sentimental e romântico da questão e sem maiores resquícios de desejo carnal em suas páginas, a obra também convida seus leitores a uma reflexão mais profunda: é esse o mundo que queremos para nós mesmos, os outros e nossos descendentes? Um mundo que nos proíba amar a quem nosso coração desejar? Um mundo de barbárie, incompreensão e preconceito que no fundo é a herança indesejada de costumes antigos, geralmente oriundos de questões religiosas e nenhum pouco filosóficas, onde as pessoas têm o poder de exercer seu livre pensamento?

Sugiro com entusiasmo este clássico de Giselda Laporta Nicolelis a pais, a jovens que estejam em dúvida com suas sexualidades e a todas as pessoas em geral, especialmente àquelas que ainda estejam às voltas com velhos julgamentos relacionados à orientação sexual dos indivíduos, para que possam chegar a um entendimento a respeito do que foram condicionados a pensar ao longo de toda uma vida, no que diz respeito às relações amorosas entre as pessoas. 

E após a leitura, talvez aplicar novas atitudes sobre o que foi lido, preferencialmente no que tange ao próprio bem-estar (pois muitas vezes o preconceito se origina em algum conteúdo interior mal-resolvido) e ao bem estar das pessoas, já que afinal  de contas em um mundo onde um homem é condecorado por matar um semelhante e condenado por amar outro do mesmo sexo, todas as pessoas merecem ser felizes, não importa qual seja a forma com que elas busquem a felicidade.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Resenha: Freddie Mercury



Singelo relato de amor

Sem maiores alardes na imprensa mundial, no dia 04 de janeiro de 2010, Jim Hutton deu seu último sopro de vida em terras irlandesas. Tinha apenas 60 anos de idade.

Jim era uma pessoa comum como muitas outras da classe operária inglesa. Trabalhava regularmente como barbeiro em um hotel, fazia alguns bicos aqui e ali pela cidade de Londres e nas horas de folga, costumava freqüentar um clube gay londrino da moda com alguns amigos que eram homossexuais como ele. Sua vida mudou então no dia em que Freddie Mercury cruzou o seu caminho, sem ser anunciado.

Apesar de uma certa resistência inicial da parte de Jim, em pouco tempo ele e Freddie engataram um romance. E foi um amor tão bonito (mesmo com alguns momentos de dúvida em que quase se separaram de vez), que acabou durando até a morte de Freddie, em 1991. 

Os últimos anos da vida de Freddie Mercury são contados, então, por Jim Hutton (com a supervisão do escritor e jornalista inglês Tim Wapshott), neste livro. Relatado com simplicidade e sem meias palavras, a obra desvenda o universo íntimo do cantor, os bastidores do Queen (a consagrada banda de Freddie) e a paixão de um homem simples por um grande, reluzente e ofuscante astro do rock. Não se trata de uma biografia completa de Freddie, mas um relato detalhado do relacionamento de Jim e Freddie, sob a ótica do primeiro, de uma forma até bem simplória e mal escrita em alguns momentos. 

O livro mostra alguns momentos polêmicos da vida dos dois, como o consumo de drogas por parte de Freddie, as "puladas de cerca" ocasionais que este dava com outros parceiros sexuais e a vida desregrada que vivia em algumas fases "negras" de sua vida. Porém, também encontramos momentos singelos do casal, como as horas destinadas aos gatos que criavam juntos como se fossem filhos, ao lago de carpas japonesas que planejaram e construíram de comum acordo e principalmente ao jardim da casa em que viviam, cuidado com zelo e esmero pelo próprio Jim, que amava plantas e flores. O livro possui também algumas passagens bem engraçadas, como por exemplo alguns eventos insólitos ocorridos durante as gravações do videoclipe da canção "The Great Pretender", da carreira solo de Freddie, onde este aprontou muitas brincadeiras com os envolvidos na produção. E há, claro e inevitavelmente, os momentos tristes, especialmente aquele em quando Freddie descobre ser portador do HIV e alguns que antecederam o seu falecimento.

Brian May, guitarrista do Queen definiu Jim Hutton da seguinte forma, na ocasião de sua morte no início de 2010: "Jim era uma alma calma e gentil, impressionado e fracamente animado com as maquinações da fama, rock and roll, e do Queen, e que assim proporcionou ao Freddie uma visão agradável e diferente da vida." Portanto, se você acha que este livro  se trata de um potencial caça-níqueis ou uma clara demonstração de oportunismo da parte de Hutton, lembre-se das palavras de May se resolver um dia lê-lo.

Para os fãs de Queen e de Freddie, este livro é item obrigatório, mesmo sendo sentimental e meloso em algumas de suas passagens e tendo, em sua versão brasileira, os (argh!) chatos e desnecessários depoimentos dos fãs ao término de cada capítulo, descaracterizando um pouco a obra. E para quem não é fã, vale como uma fonte valiosa de informações sobre a intimidade de um dos maiores artistas do século XX. Recomendo, mesmo com algumas ressalvas.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Resenha: Fup



"Fup? Mas que diabos é Fup?"

Foi essa pergunta carregada de incredulidade e sarcasmo que fiz a mim mesmo quando soube, via amigos da internet, da existência desse livro de título tão estranho que trazia a figura de um pato na capa.

Seria um manual para criadores de aves ou alguma história infantil sobre uma fazenda de animais? Curioso e estupefato, ainda mais com os elogios dos amigos à história, resolvi adquirir o livro para tirar minhas próprias conclusões. E não é que adorei?

A história de Fup, do escritor americano Jim Dodge, se passa na primavera de 1977, relatando o cotidiano um tanto bizarro e poético de quatro personagens de personalidades distintas cujas vidas se entrelaçam de tal forma que é impossível não ficar alheio ao destino deles. Eles são Jake, um avô ranzinza que se julga imortal por conta de um elixir alcoólico que fabrica; Miúdo, seu neto órfão obcecado em construir cercas, Fup, uma pata obesa e geniosa surgida do nada e sem qualquer aptidão para voar e Cerra-dente, um destemido e perigoso porco-do-mato cuja principal atividade é destruir as cercas construídas por Miúdo.

A ligação entre Fup e Cerra-Dente e entre Miúdo e seu avô mostram o quão gradual é o aprendizado da liberdade. A forma com que Dodge explora a metáfora da cercas de Miúdo para falar do quanto é importante a liberdade na vida das pessoas realmente impressiona. E faz o leitor pensar que, assim como Miúdo, muitas pessoas passam grande parte de sua vida vidas construindo cercas em torno de si para se sentirem seguras, quando o certo seria destruir estas cercas para se libertar de amarras que nos são impostas pelas urgências e pelo marasmo do cotidiano.

Fup é uma leitura gostosa, prazerosa. Sua narrativa e seus personagens são bem construídos, como pouco se vê por aí, em um mundo apinhado de best-sellers sem graça. E acho melhor não revelar muitos detalhes da história para que você, futuro leitor, investigue a fundo esse livro inusitado e belo.

Portanto, se você quer fugir um pouco do convencional e se acha que sua vida precisa de um impulso, leia Fup. Esse livro, de caráter edificante, é um verdadeiro achado, embora ninguém dê nada pelo mesmo à primeira vista (como eu o fiz).

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Nossa Língua (VIII)


Mais curiosidades sobre algumas palavras da língua portuguesa


Ano-novo
Você sabia que a palavra Ano-novo pode significar duas coisas: a primeira delas é que pode ser sinônima de “Réveillon”, ou seja, o primeiro dia do ano. Para esse caso, escreve-se com hífen “Ano-novo”. O segundo significado é novo ano, ou seja, o ano que será transcorrido após o Réveillon. Para esse caso, escreve-se sem hífen!

Através de
A expressão ”através de” devia ser evitada como sinônimo de "por meio de, por intermédio de", uma vez que a maior parte dos dicionários não registraria a locução com este sentido. No entanto, o novo Dicionário Aurélio Século XXI (1999) já registra esta locução com o sentido de "por intermédio de", pois é uma expressão tão corrente e usual na língua que os próprios usuários modificaram seu sentido, cristalizando-o mesmo nos dicionários.

Como escrever horas?
O correto é 2h30min (abreviado) ou 2 horas e 30 minutos.
Escreva sempre meio dia e meia.
Use crase diante das expressões de tempo formadas por palavras femininas: Às 2h – à meia-noite – à tarde – à noite etc.

Religamento ou Religação?
Podemos usar as duas formas, dependendo do contexto, é claro!
Utilizamos Religamento como expressão masculina:
Ex.: Providenciarei o religamento de seu aparelho ainda hoje.
Usamos Religação como expressão feminina:
Ex.: Providenciarei a religação da sua internet amanhã.

Ância X ânsia
O certo é ânsia. Mesmo se a terminação “ância” normalmente é com “c”, como em constância, discordância, elegância etc.

Cabelereiro X cabeleireiro
O certo é cabeleireiro, porque a palavra primitiva é cabeleira, e não cabelo.

Quota X cota
Uma quantia determinada pode ser denominada cota ou quota. As duas formas estão corretas.

Acidímetro
Você sabia que há um instrumento para medir o grau de acidez de um líquido? Chama-se acidímetro.

Cachorro-quente X cachorro quente
Se estivermos nos referindo ao sanduíche temos que usar o hífen. Caso contrário estaremos comentando a temperatura do cachorro, cachorro mesmo!

Baragnose
“Ele sofre de baragnose.” Ou seja, é incapaz de sentir o peso dos objetos, de compará-lo com o de outros.

Bem-me-quer, malmequer
É assim mesmo. Bem-me-quer se escreve com hífens e malmequer se escreve tudo junto.

Baton X batom
Batom é a versão aportuguesada da palavra baton, em francês, portanto, está correta. As duas formas são usadas no Brasil.

Acedente X acidente
As duas palavras estão corretas. Acedente significa aquele que acede, ou seja, aquele que concorda. Acidente significa acontecimento imprevisto.

Chamarisco X chamariz
As duas palavras estão corretas e têm o mesmo sentido. Significam aquilo que chama, que atrai.

Aja X haja
Aja é uma forma do verbo agir e haja, do verbo haver. Observe o exemplo para não confundir mais: Aja com atenção para que não haja novos acidentes.

Algures X Alhures
Estes dois advérbios de lugar são pouco usados. Mas algures quer dizer "em algum lugar". Já alhures significa "em outro lugar".

Além-mar X Além mar
Além pede sempre o hífen: além-mar, além-fronteiras etc. 

O alface X A alface
Alface é substantivo feminino. Diga: "a alface está muito tenra". 

Se acaso X Se caso
Com a conjunção se, deve-se utilizar acaso, e nunca caso. O certo: "Se acaso o Brasil for campeão, eu vou...". Mas podemos dizer: "Caso o Brasil seja campeão, eu vou...". 

A princípio X Em princípio
A princípio significa inicialmente, antes de mais nada: Ex: "a princípio, gostaria de dizer que estou bem". Em princípio quer dizer em tese. Ex: "em princípio, todos concordaram com minha sugestão".

À medida que X Na medida em que
As duas expressões existem: À medida que significa à proporção que. Na medida em que equivale a tendo em vista que. O que não existe é a mistura dessas duas expressões: à medida em que. 

As custas X À custa
As custas só se usa na linguagem jurídica para designar despesas feitas no processo. Portanto, devemos dizer: "o filho vive à custa do pai", no singular.

Um dos que foi X Um dos que foram
Um dos que deixa dúvidas. Há gramáticos que aceitam o emprego do singular depois dessa expressão. Mas pela norma culta, devemos pluralizar: "eu sou um dos que foram admitidos"; "Sandra é uma das que ouvem rádio". 

Bem-vindo X Benvindo
Ainda se vê muito, principalmente na entrada das cidades, a expressão bem vindo (sem hífen) e até benvindo. As duas estão erradas. Deve-se escrever bem-vindo, sempre com hífen. 

A meu ver X Ao meu ver
O certo é a meu ver e não ao meu ver. 

Afim X A fim de
Afim tem relação com afinidade: gostos afins, palavras afins. A fim de equivale a para: "veio logo a fim de me ver bem vestido". 

Vice-prefeito X Vice prefeito
O prefixo vice deve ser sempre separado por hífen da palavra seguinte: vice-prefeito, vice-governador, vice-reitor, vice-presidente, vice-diretor etc. 

Subsídio: S ou Z?
É comum ouvirmos no rádio e na TV o entrevistado dizer: "O que nos falta são subzídios". Quer dizer, fala com a pronúncia do z. Mas não é: pronuncia-se ss. Portanto, escreva subsídio e pronuncie subssídio. 

Retificar X Ratificar
Não se esqueça: retificar é corrigir, e ratificar é comprovar, reafirmar: "Eu ratifico o que disse e retifico meus erros". 

Pôr X Por
Pôr só leva acento quando é verbo: "Quero pôr tudo no seu devido lugar". Mas se for preposição, não leva acento: "Por qualquer coisa, ele se contenta". 


Fonte consultada: Fórum Amigos do Noivo.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Histórias inspiradoras de incentivo à leitura nas escolas



Se leitura vem bem próximo à palavra “inspiração”, conheça aqui atividades de algumas escolas que vão, sim, estimular educadores mas também todos os nós no incentivo à leitura. 
Podem copiar à vontade! E, se você tiver alguma história parecida para nos contar, aproveitem nosso espaço abaixo. 

Livro-presente 
No Colégio Cenecista Elias Moreira, em Joinville (SC), professores de crianças de 4 e 5 anos de idade pedem aos pais, no início do ano, uma quantia em dinheiro equivalente ao valor de um livro. No aniversário de cada criança da sala, então, presenteiam-na com um livro acompanhado de dedicatória feita por toda a turma. 

Personagem amigo 
Eleger um personagem como “amigo da turma”, para que vire tema de sala é outra iniciativa positiva praticada pelo Colégio Cenecista Elias Moreira. Histórias do personagem amigo são lidas, as crianças criam outras (em texto coletivo), vêm filme do personagem, discutem ilustrações que o caracterizam e criam quadrinhas para ele, de modo que se perceba a importância da pesquisa e do aprofundamento das leituras. 

Produção de livros 
Que tal as próprias crianças produzirem livros ao longo da vida escolar? Na escola Grão de Chão, os grupos produzem um diário de sala a cada ano, contando a sua história. Eles ainda fazem livros que sintetizam e registram projetos de trabalhos (dinossauros, casas, abelhas etc.) e têm a chance de produzir livros de reconto e criação de histórias.

O Prêmio: Vivaleitura! 
O Prêmio Vivaleitura acontece desde 2006 para promover e divulgar nos mais variados cantos do Brasil. No site do Prêmio, você encontra projetos relacionados à leitura em creches e escolas, que foram finalistas nos anos dos prêmios de 2006 ou 2007. 

Um berçário cheio de livros 
Os bebês do Berçário Municipal Mãe Cristina, de Marília (SP), estão aprendendo a amar a leitura. Dos clássicos da literatura infantil, como Branca de Neve, Pinóquio e a Bela e a Fera, às fábulas e histórias do folclore brasileiro, como O Boto Cor-de-rosa e o Negrinho do Pastoreio, os livros da escola são lidos para os bebês e também manuseados por eles.
A lição de casa é distribuída toda sexta-feira, na hora da saída, para os pais, um contingente de diaristas, comerciários, secretárias, vigias, operários e estudantes. Cada família recebe um livro da biblioteca da escola, que deve ser lido para os filhos durante o fim de semana e devolvido na segunda, com um relato da reação dos bebês.
Batizado de Meu Broto de Leitura... Leitura de Histórias, Contos, Poesias... Para Bebês, o projeto foi idealizado pela professora Creuza Prates Galindo Soares. Muitas vezes, os próprios pais são apresentados aos livros por causa do programa. Além disso, o Meu Broto de Leitura fortalece os vínculos entre os bebês e os pais e também aproxima a família da escola. 

Rimas com a Literatura de Cordel 
O projeto vencedor na categoria Escolas Públicas ou Privadas, Cordel: rimas que encantam, nasceu da necessidade de conhecer o repertório dos alunos da Escola de Ensino Fundamental João Pinto Magalhães, localizada em São Gonçalo do Amarante (zona rural do Ceará), para entender a melhor maneira de estimulá-los no processo de aprendizagem.
Ao perceber a passividade e a desmotivação com que seus alunos encaravam o ato de ler, Francisca das Chagas Menezes Sousa, idealizadora do projeto, resolveu investigar os motivos de tamanho desencanto pela literatura. Descobriu que uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos estudantes era conciliar seu “falar cotidiano” com a “linguagem escolar”. Concluiu que os jovens simplesmente não compreendiam um texto normativo por ser muito diferente de sua realidade lingüística. A solução? O cordel. Francisca apostou em textos que apresentassem uma oralidade familiar, isto é, a linguagem popular dos cordelistas da região, para desenvolver nos alunos as habilidades de leitura e escrita. “Não existe pessoa desmotivada, mas leitura que não agrada”, acredita Francisca. “Temos simplesmente que descobrir que tipo de texto conquista cada indivíduo.” 

Biblioteca no barco 
Uma biblioteca dentro do barco que leva diariamente os alunos para a escola, com acervo formado por doações. Foi assim que um mero meio de transporte se transformou em fonte de estudos e informação. Com o nome de Biblioteca Espumas Flutuantes, o projeto, iniciativa da prefeitura de Angra dos Reis (RJ), foi um dos cinco selecionados como finalistas do Prêmio VIVALEITURA, na categoria Bibliotecas Públicas, Privadas e Comunitárias.
A solução de incentivo à leitura funciona desde 1994 no barco Irmãos Unidos II, contratado pela prefeitura para levar diariamente crianças e jovens de praias da Baía da Ilha Grande para a Escola Municipal Silvestre Travassos, situada na Praia de Araçatiba. O barco sai do cais às 5h e chega à escola às 8h, depois de oito paradas. Na volta, deixa Araçatiba às 14h e ancora no cais ao entardecer. Durante as duas viagens, cerca de 100 alunos, monitorados por dois professores, podem fazer pesquisas escolares, empréstimos ou leitura livre. 

Estudantes gravam livros falados para deficientes visuais 
A descoberta da solidariedade a partir da tomada de consciência das diversas carências humanas. Foi o que aconteceu com os 46 alunos da 7º série de 2007 da escola particular Palmares, em Curitiba, Paraná.
A partir de uma série de reflexões feitas em sala de aula junto com a professora, eles foram para a ação. Instigados pela mestra, foram visitar a biblioteca pública do Paraná para conhecer o acervo público de livro falado, visitado no ano anterior. O responsável pelo setor, um deficiente visual, contou os meandros de produção deste acervo e suas principais carências. A artificialidade das narrações feitas por meio do computador, com voz sintetizada e a falta de voluntários para a gravação da leitura das obras, sensibilizou os alunos. “Meus alunos ficaram impressionados com a frieza dessa voz e pediram para ouvir um livro que tivesse sido gravado por voz humana”, afirma Vanessa Lopes Ribeiro, a professora de Português da turma, que havia iniciado um trabalho de gravações de livros com os estudantes da mesma série em 2006. O trabalho foi iniciado com ênfase em livros infanto-juvenis, os mais requisitados pelas bibliotecas do interior do Estado. Cada aluno escolheu dois livros, um para ser gravado na escola e outro em casa. Com isso, o número de livros falados do acervo da seção de braille da Biblioteca Pública do Paraná teve um incremento considerável. 

Os gibis como iniciação à leitura 
Utilizar o gibi como forma de iniciação à leitura. Essa foi a forma encontrada por três professores da rede municipal na cidade de Pompéia, localizada na região centro-oeste do Estado de São Paulo.
É o projeto Semeando o Prazer de Ler com as Histórias em Quadrinhos, que busca desenvolver nas crianças e nos pais o hábito e o gosto pela leitura, formando leitores por meio de momentos prazerosos de leitura nas unidades educacionais. Os quadrinhos mais utilizados são os da Turma da Mônica e os do Menino Maluquinho.
O projeto envolve diretamente 60 alunos da pré-escola e foi criado pelos professores Marcelo Campos Pereira, Rita de Cássia Souza Ribeiro Silva e Vilma Maria do Nascimento Vicentin, da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Sonho de Criança.
Para ampliar o número de gibis disponíveis para os alunos, uma campanha batizada de Aqueça o Nosso Prazer de Ler foi difundida na cidade. Os organizadores conseguiram arrecadar 300 gibis pelos nos mais variados locais da cidade, como bancos, lojas e ginásios de esporte. 
Estava pronta a base da gibiteca de Pompéia, que inicialmente foi repartida entre três turmas da EMEI Sonho de Criança. Os alunos passaram retirar gibis e levar para a casa. O processo acabou por envolver de forma efetiva as famílias no projeto.
O passo mais importante foi levar os pequenos leitores e a gibiteca para outros lugares e contagiar outras crianças a desenvolverem o gosto e o prazer pela leitura. Foram criadas atrações à parte como o Trenzinho da Leitura, vagão que transporta as crianças caracterizadas de personagens da Turma da Mônica.
“Colocamos a gibiteca no trenzinho e saímos pela cidade visitando toda semana algumas unidades educacionais”, conta um dos mentores, Marcelo Campos Pereira. Segundo ele, essas ações, dentro e fora da unidade escolar, ajudaram a “semear” nas crianças o desejo pela leitura.


Texto de Marina Vidigal publicado originalmente no site Crescer.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Frase (XVII)


"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias." 


[Mário Vargas Llosa]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Poesia (XV)


Dez chamamentos ao amigo


I
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há um tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

II
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida altivez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.

III
Se refazer o tempo, a mim, me fosse dado
Faria do meu rosto de parábola
Rede de mel, ofício de magia
E naquela encantada livraria
Onde os raros amigos me sorriam
Onde a meus olhos eras torre e trigo
Meu todo corajoso de Poesia
Te tomava. Aventurança, amigo,
Tão extremada e larga
E amavio contente o amor teria sido.

IV
Minha medida? Amor.
E tua boca na minha
Imerecida.
Minha vergonha? O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha.
Meu chamamento? Sagitário
Ao meu lado
Enlaçado ao Touro.
Minha riqueza? Procura
Obstinada, tua presença
Em tudo: julho, agosto
Zodíaco antevisto, página
Ilustrada de revista
Editorial, jornal
Teia cindida.
Em cada canto da Casa
Evidência veemente
Do teu rosto.

V
Nós dois passamos. E os amigos
E toda minha seiva, meu suplício
De jamais te ver, teu desamor também
Há de passar. Sou apenas poeta
E tu, lúcido, fazedor da palavra,
Inconsentido, nítido
Nós dois passamos porque assim é sempre.
E singular e raro este tempo inventivo
Circundando a palavra. Trevo escuro
Desmemoriado, coincidido e ardente
No meu tempo de vida tão maduro.

VI
Foi Julho sim. E nunca mais esqueço.
O ouro em mim, a palavra
Irisada na minha boca
A urgência de me dizer em amor
Tatuada de memória e confidência.
Setembro em enorme silêncio
Distancia meu rosto. Te pergunto:
De Julho em mim ainda te lembras?
Disseram-me os amigos que Saturno
Se refaz este ano. E é tigre
E é verdugo. E que os amantes
Pensativos, glaciais
Ficarão surdos ao canto comovido.
E em sendo assim, amor,
De que me adianta a mim, te dizer mais?

VII
Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso.
Distanciado
Dos teus livros políticos?
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Tu sorris quando lês
Ou te cansas de ver
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?

VIII
De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura
Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.
Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem
Enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando
- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

IX
Esse poeta em mim sempre morrendo
Se tenta repetir salmodiado:
Como te conhecer, arquiteto do tempo
Como saber de mim, sem te saber?
Algidez do teu gesto, minha cegueira
E o casto incendiado momento
Se ao teu lado me vejo. As tardes
Fiandeiras, as tardes que eu amava,
Matéria de solidão, íntimas, claras
Sofrem a sonolência de umas águas
Como se um barco recusasse sempre
A liquidez. Minhas tardes dilatadas
Sobreexistindo apenas
Porque à noite retomo minha verdade:
teu contorno, teu rosto álgido sim
E por isso, quem sabe, tão amado.

X
Não é apenas um vago, modulado sentimento
O que me faz cantar enormemente
A memória de nós. É mais. É como um sopro
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso
É como se a despedida se fizesse o gozo
De saber
Que há no teu todo e no meu, um espaço
Oloroso, onde não vive o adeus.
Não é apenas vaidade de querer
Que aos cinqüenta
Tua alma e teu corpo se enterneçam
Da graça, da justeza do poema. É mais.
E por isso perdoa todo esse amor de mim
E me perdoa de ti a indiferença.


[Poesia retirada da obra Júbilo, 
Memória, Noviciado da Paixão, de Hilda Hilst
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