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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Resenha: O apanhador no campo de centeio


O primeiro livro real feito para jovens

É bem possível que você nunca tenha lido O Apanhador, mas deve ter ouvido falar muito nele por aí. Se você tem um mínimo de conectividade com o mundo que o cerca, muito provavelmente já viu, leu ou ouviu alguma alusão ao livro no cinema, em jornal, revistas, em outros livros e até mesmo em escabrosas teorias da conspiração, como o fato do livro ser o favorito de Mark Chapman, o assassino do ex-Beatle John Lennon e de John Hincley Jr., que tentou assassinar o presidente norte-americano Ronald Reagan nos anos 80 . O fato é que este romance de 1951 virou lenda ao longo dos anos, e fez de seu autor, Jerome David Salinger (ou simplesmente J. D.), um dos maiores mistérios da história recente da literatura. A pequena revolução que O Apanhador causou no comportamento da juventude americana (e por tabela, no comportamento da juventude do mundo todo), reverbera até os dias atuais.


O Apanhador narra um fim-de-semana na vida de Holden Caulfield, um jovem de 17 anos vindo de uma família abastada de Nova York. Holden, estudante de um pomposo internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno depois de ter levado bomba coletiva em quase todas as matérias que estuda. Na volta para casa, antevendo a bronca que levará de seus pais, vai refletindo sobre tudo o que viveu, repassando ao leitor sua peculiar visão de mundo e tentando no processo enxergar alguma esperança ou talvez alguma grandiosa idéia que defina o seu futuro. E antes de se defrontar com os pais, procura algumas pessoas importantes para si (um professor, uma antiga namorada, sua irmã Phoebe) e tenta explicar-lhes a confusão que passa por sua cabeça.


E é apenas isto. Não há nada de trágico ou dramático na história. Trata-se apenas da jornada de um adolescente de volta ao lar e a grande sacada de O Apanhador é justamente esta: ser uma história de e para adolescentes, e não meramente um livro "recomendado para leitores em idade escolar". Foi a primeira vez na literatura americana (ou mesmo na mundial) que o universo próprio dos jovens foi estudado a fundo e exposto de maneira absolutamente natural, sem nenhuma pretensão ou didatismo. As idéias, conceitos, bobeiras, burrices, enfim, toda a loucura de ser jovem, nunca haviam sido traduzidas de uma maneira tão profundamente sintonizada com a realidade, segundo alguns fãs e críticos entusiastas do livro.


O que faz com que um livro narrando acontecimentos quase banais, ocorridos com um adolescente que não tem nada de extraordinário, transforme-se na mais acurada e sensível crônica da juventude deste século? Por se tratar justamente de um marco na longa estrada que os jovens trilharam (e ainda trilham) para provar que têm direito a uma voz e uma visão de mundo próprias. E antes dele, simplesmente não existia esta coisa que há hoje de cultura jovem. Pode ser difícil de acreditar, mas há meros 50 anos os jovens (e sua maneira de pensar, suas idéias próprias e suas aspirações) não eram levados a sério pelos adultos de forma alguma. Ser jovem, nos anos pré-Elvis Presley, era apenas estar em um estágio irritante entre criança e o "homem feito", uma fase que devia passar o mais rápido possível e sem maiores dores. O que não quer dizer que os jovens não tivessem seus anseios e preocupações - que não eram infantis nem adultas - mas que eram ignoradas pelos mais velhos. O Apanhador, com seu relato sem retoques de tudo aquilo que realmente se passa na mente de um adolescente, ajudou a tornar a sociedade mais atenta à barra (às vezes, pesada) que é ser jovem.


Uma autora que nitidamente me lembra Salinger aqui no Brasil é a Lygia Bojunga. Mas esta fala dos anseios das crianças, que como qualquer ser humano também possui suas preocupações no dia-a-dia.


Mas voltando ao Apanhador, não deixe de lê-lo, mesmo que você já seja um adulto feito. E ao tê-lo em mãos, faça uma espécie de regressão mental e imagine-se jovem outra vez, como se tivesse a mesma idade de Holden Caufield. Será inevitável não encontrar semelhanças entre a vida dele e a sua, de muitos anos atrás, lembrando que Salinger  teve êxito nessa regressão, pois já tinha 32 anos quando escreveu sua obra. Mesmo sendo homem feito, soube mergulhar como ninguém no espírito jovem da época. Portanto, permita-se fazer o mesmo, especialmente se você é alguém que lida com jovens em seu dia-a-dia.


E descubra também o porquê do título do livro, já que a história se passa na cidade, não no campo...


Nota: alguns trechos, idéias e pontos de vista desta resenha foram retirados do texto de Marco Antonio Bart para este livro, no Site Scream & Yell. Clique AQUI e procure pelo texto deste autor na íntegra.

2 comentários:

  1. Gostei muito deste livro, com certeza a gente se identifica com Holden. J. D. Salinger, escreveu apenas este romance e morreu recentemente.

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  2. Na verdade existem mais romances dele, Lana. No Brasil ainda saíram Franny e Zoey e um de contos chamado "Nove Estórias". Quero lê-los um dia.

    Que bom que conseguiu comentar desta vez! ;-)

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